Estamos matando nosso planeta com o ar condicionado?

Este artigo foi originalmente publicado na Common Edge.

Neste verão, o governo federal americano divulgou uma estatística surpreendente: 87% dos lares americanos agora estão equipados com ar condicionado. Como o mundo está ficando inegavelmente mais quente, suponho que isso não seja tão surpreendente, mas lembre-se de que um grande número dessas casas refrigeradas mecanicamente localizam-se em climas razoavelmente temperados. Portanto, minha pergunta é simples: quando o ar condicionado nos Estados Unidos se tornou um requisito, e não um complemento?

Todo esse ar movimentado não teria problema, eu acho, se não estivemos nos matando, liberando megatons de carbono em nossa atmosfera já em aquecimento. Dizem que temos cerca de 11 anos para controlar as emissões antes que o mundo seja irreversivelmente danificado. (Alguns cientistas estão avisando que já é tarde demais.) Apesar disso, o consumo elétrico de ar condicionado no mundo em desenvolvimento deverá triplicar nos próximos 11 anos.

E não podemos nem começar a apontar o dedo para eles, porque eles estão apenas nos imitando. De acordo com um artigo de 2015 no The Guardian, os EUA continuam sendo o líder mundial em uma distinção bastante duvidosa: “Uma nação com 318 milhões de pessoas representando apenas 4,5% da população mundial consome mais energia para ar condicionado do que o resto do mundo inteiro. Ele usa mais eletricidade para resfriamento que a África, com 1,1 bilhão de habitantes, usa para tudo.”

Mais de 60% da eletricidade nos EUA é gerada com combustíveis fósseis, que produzem o carbono que aquece o clima, que nos faz querer ar condicionado que, por sua vez, torna o planeta ainda mais quente. É um ciclo vicioso de proporções existenciais. E, no entanto, de alguma forma, sentimos que temos direito ao conforto, independentemente das consequências. Projetei cerca de 500 prédios com ar condicionado, mas minha família viveu em dois prédios ao longo de 35 anos que não possuíam qualquer tipo de ar condicionado. Usamos sombra, vento, exposição e ventilação para torná-lo desnecessário (embora, verdade seja dita, talvez tenhamos perdido uma ou duas semanas por ano).

Meus clientes me contratam porque penso nessas medidas preventivas que permitem que os edifícios usem menos energia. Mas quase todos eles querem a opção de ar central. Queremos comer um bolo light e comer um bife também. É sobre controle e escolha, mesmo que nem sempre seja a coisa certa a fazer.

O desejo de controlar nosso destino tornou-se político. Na era da mudança climática e do Green New Deal, especialistas da direita agora usam a palavra "repressores" para políticos que desejam controlar a cultura de consumo: Sem carne! Sem carros! Não viaje de avião! Não emita carbono!

Os objetivos do Green New Deal são baseados em um resultado essencial: sobrevivência. Mas, em nossas vidas pessoais, ainda queremos ar condicionado, mesmo que mais pessoas estejam se mudando para as cidades, abandonando carros, comendo menos carne, reciclando, pensando no carbono liberado por cada coisa que consumimos.

A maioria de nós nos EUA não precisa de ar condicionado em nossas casas, exceto enquanto melhoria na "qualidade de vida". É como um bom bife ou ir de jatinho para a Europa. Mas essas escolhas de estilo de vida estão imersas em uma pesada dose de pensamento mágico, a crença cega, mas esperançosa, de que, de alguma forma, resolveremos tudo isso antes do inevitável dia do acerto de contas. Precisamos dirigir e ainda voamos em aviões, mas, honestamente, o uso de combustíveis fósseis para resfriar nossas casas é tão necessário quanto comer carne. Esquecemos que estar mais quente do que o confortável não mata a grande maioria das pessoas na maioria dos locais. Mas o ar condicionado agora é esperado em todos os lugares.

É claro que os computadores precisam ser mantidos resfriados. Grupos grandes em grandes espaços precisam funcionar em condições quentes e úmidas. Os idosos e as pessoas mais frágeis vivem melhor evitando o calor extremo. Mas o ar-condicionado tem apenas três gerações e nosso corpo está mudando rapidamente seus termostatos internos já nessa expectativa. Mas em nossas casas, com ventiladores, persianas e janelas que captam o vento e dão a ele lugares para ir, por que a ventilação mecânica agora é uma nova exigência?

Assim como os carros já tiveram uma embreagem e transmissão manual, a transmissão automática agora é o sistema operacional para a maioria deles. Em breve todos os carros terão ar condicionado. Nossas casas estão seguindo o exemplo. Mesmo com metade do país em zonas de clima temperado, os proprietários gastam 12% de seu orçamento em energia elétrica. Shane Cashman escreveu um artigo no The Atlantic há alguns anos, intitulada "A História Moral do Ar Condicionado". O verão está terminando, mas enquanto a memória estiver fresca, pense em suas palavras: "À medida que o verão avança, ouça o coro de máquinas zumbindo nas janelas, do lado de fora das casas, em cima dos prédios de escritórios. Eles lembram que a engenhosidade da humanidade pode ter um custo. Talvez nossos antepassados não estivessem totalmente errados ao ver perigo no ato de resfriar o ar. "

A vida é sobre o que valorizamos e como vivemos nossos valores. Valorizamos o ar-condicionado o suficiente para aceitar seu custo real?

Sobre este autor
Cita: Dickinson, Duo. "Estamos matando nosso planeta com o ar condicionado?" [Are We Air Conditioning our Planet to Death?] 23 Set 2019. ArchDaily Brasil. (Trad. Moreira Cavalcante, Lis) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/924997/estamos-matando-nosso-planeta-com-o-ar-condicionado> ISSN 0719-8906

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