Casas brasileiras: 9 exemplos da arquitetura residencial vernacular

Casa de pau a pique. Imagem © Pedro Levorin

As expressões regionais da cultura de um país representam um dado significativo que ajuda a entender a relação do contexto e das condições específicas com as mais diversas formas de manifestação social. Essas nuances e singularidades dentro do âmbito da construção se traduzem no que pode ser entendido como arquitetura vernacular. Apesar de sempre ter existido, esse universo dos exemplares locais de arquitetura a partir de materiais, técnicas e soluções construtivas regionais veio a ser bastante estudado no Brasil na segunda metade do século XX, em um projeto de traçado da história arquitetônica nacional encabeçado por Lucio Costa.

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Trata-se de um tipo de arquitetura que, além de representar um dado cultural inegável e um saber que é passado de geração em geração, costuma ser altamente sustentável ao se basear em uma lógica que incorpora materiais de baixa energia incorporada e técnicas locais, com soluções pensadas para se adaptarem, de forma passiva, ao clima e condições específicas.

Assim como na maioria dos países, no Brasil, grande parte dos exemplares de arquitetura vernacular se manifesta na tipologia residencial. Conheça a seguir, alguns desses casos que, de norte a sul, contribuem para formação das identidades regionais e carregam um forte sentido histórico para uma leitura plural dentro da narrativa da formação da arquitetura brasileira.

Oca (ou Oga)

Oca Kamaiurá. Imagem via Wimimedia, usuário Photographer. Licença CC BY-SA 4.0

Conhecida tipologia residencial indígena no Brasil, a Oca (em tupi) ou Oga (guarani) é uma das unidades formadoras das aldeias. Construída geralmente de palha e madeira, sem divisórias internas, é um espaço de habitar coletivo e de desenvolvimento de tarefas cotidianas, como a produção de alimentos e objetos artesanais.

Maloca

Construção de maloca da comunidade Xinguano Kuikuro. Imagem © CC BY-SA 4.0

Outro modo de habitar indígena, encontrado sobretudo na Amazônia brasileira e colombiana, é representado pelas malocas, ou casas grandes, que são construções maiores que as anteriores e com divisórias internas, dentro das quais habitam vários grupos familiares. Cada tribo confere à arquitetura e organização do espaço características específicas.

Quilombo

Casa do Quilombo do Kaonge, Cachoeira, Bahia. Imagem © Pedro Levorin

Os quilombos surgiram como espaços de ocupação e resistência de escravos africanos e afrodescendentes em todo o território americano. Com ocorrência registrada em mais de 25 estados do país, os quilombos representam uma forma de ocupação consolidada de norte a sul do Brasil.

Palafita

Palafitas em Manaus. Imagem © Giovana Tozzi

Recorrentes em áreas com altos índices pluviométricos, as palafitas são construções residenciais sobre estacas com ocorrência em locais alagadiços. No caso brasileiro, é comum encontrar exemplares dessa tipologia sobretudo na região norte.

Barraco

Barracos da Favela de Paraisópolis, São Paulo. Imagem © Fernando Stankuns via Visual Hunt / CC BY-NC-SA

São denominadas genericamente de "barraco" as construções presentes nas favelas em todo o mundo. No caso brasileiro, são tipicamente construídos em alvenaria sem reboco. Esse tipo de residência representa a realidade de uma parcela significativa da população urbana do Brasil, já que, segundo levantamento do IBGE, o país possuía em 2010 mais de 6.300 favelas.

Casa Bandeirista

Casa-Sede do Sítio Ressaca. Imagem cortesia de Shieh Arquitetos Associados

Com ocorrência registrada nos séculos XVII e XVIII, a Casa Bandeirista é um representante da arquitetura colonial de contexto rural paulista. Apesar de ser construída, como muitas outras tipologias à época, em taipa de pilão, caracteriza-se sobretudo pela organização de sua planta, quase sempre retangular ou quadrada, com distribuição simples de ambientes e aberturas na fachada.

Casa de Pau a Pique

Casa de pau a pique em Maranguape, Ceará, Brasil. © Imagem CC BY-SA 3.0

Esse tipo de arquitetura vernacular mostra uma técnica construtiva altamente disseminada no período colonial. Também conhecido como taipa de mão ou taipa de sopapo, o pau a pique é um método que se baseia na forma de construção das paredes a partir de uma trama de peças de madeira ou bambu fixadas no chão, amarradas por cipós, que conforma o espaço vazio a ser preenchido manualmente com barro.

Casa de Taipa de Pilão

Sobrado do Beco Alto, Cuiabá - MT. No canto inferior direito se veem as camadas de barro que foram comprimidas com o pilão. Fotografia de Paulisson Miura, via Flickr. Licença CC BY 2.0

Assim como o pau a pique, a taipa de pilão é um método construtivo introduzido no vocabulário brasileiro no período colonial graças à sua durabilidade e maior facilidade construtiva em relação à alvenaria ou pedra. No caso da taipa de pilão, a fôrma de madeira - após receber o preenchimento de terra, cal e cascalho que, por sua vez é compactado mecanicamente com pilões de madeira - é removida.

Casa de Enxaimel

Casa enxaimel Erwin Rux, no Conjunto Rural de Rio da Luz, em Jaraguá do Sul (SC). Cortesia de Iphan

De origem alemã, a técnica do enxaimel (Fachwerk) chega ao Brasil no contexto de ocupação do sul do país por imigrantes de origem germânica mobilizada pelo imperador Dom Pedro I no século XIX. Por conta disso, seus exemplares se restringem praticamente aos estados dessa região, com algumas pontuais ocorrências no sudeste. Esse método construtivo combina peças de madeira encaixadas - sem pregos - formando uma espécie de treliça com elementos horizontais, verticais e diagonais. Os vazios são fechados com tijolos, pedra ou, em alguns casos, terra.

Publicado originalmente em novembro de 2018.

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Sobre este autor
Cita: Julia Daudén. "Casas brasileiras: 9 exemplos da arquitetura residencial vernacular" 26 Abr 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/906932/casas-brasileiras-9-exemplos-da-arquitetura-residencial-vernacular> ISSN 0719-8906

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