Representatividade importa: conheça 31 arquitetas negras

Mulheres pensam, planejam e constroem nossos edifícios e cidades, nossos espaços de vida. Contudo, a igualdade de gênero ainda não é uma realidade em diversas práticas sociais e profissionais. Constatamos isso diante da violência física e psicológica sofrida pelas mulheres, da falta de reconhecimento, das imposições ocupacionais, diferenças salariais, além de tantas outras. Esse panorama diz respeito às mulheres de todo o mundo, mas também dentro da arquitetura há estatísticas que comprovam como as mulheres ainda não são valorizadas social e profissionalmente.

Dentro desse quadro de desvalorização e desigualdade, as mulheres negras enfrentam um panorama de invisibilidade ainda maior. O preconceito racial enraizado em nossa sociedade, assim como as oportunidades ainda segmentadas geram uma disparidade de quantidade e reconhecimento de profissionais negras nos cursos e áreas de atuação da Arquitetura e do urbanismo.

Apesar das diversas conquistas alcançadas pela luta feminina, as mulheres brancas continuam sendo as mais beneficiadas. A luta por igualdade na profissão extrapola o contexto de gênero e ganha força nos movimentos raciais, pois só há real igualdade quando essa é de classe, gênero e raça.

O Coletivo Arquitetas Invisíveis entende que representatividade em diversos contextos tem o poder de transformar a sociedade, e trabalha visando apresentar, divulgar e homenagear o trabalho dessas excelentes profissionais e levantar o debate: por que muitas delas ainda são invisíveis? E como podemos mudar esse quadro?

Como uma memória da consciência negra, apresentamos abaixo 31 arquitetas negras, que se destacam nos vários âmbitos na arquitetura e urbanismo pela força de seus trabalhos e histórias de vida.

PIONEIRAS

via Arquitetas Invisíveis

Sharon Egretta Sutton

Professora visitante na Parsons School of Design - The New School [1] em Nova York, Professora adjunta da Universidade Columbia [2] e professora emérita da Universidade de Chicago, Sutton foi a primeira mulher afro-americana a tornar-se professora universitária titular de arquitetura nos Estados Unidos e a segunda mulher afro-americana a ser nomeada como integrante do Instituto Americano de Arquitetos (AIA) [3].

Possui quatro graduações: música, arquitetura, filosofia e psicologia [4] e leciona desde 1975, passando por locais como Instituto Pratt, Universidade de Cincinnati e Universidade de Michigan [2]. Sutton alia sua carreira acadêmica com o ativismo em prol de planejamentos urbanos participativos e inserção cultural para comunidades marginalizadas. A arquiteta segue recebendo incontáveis prêmios e honras pelo reconhecimento de seu trabalho acadêmico e social.

Norma Merrick Sklarek 

Norma foi a primeira mulher afro americana a receber a licença de arquiteta e a tornar-se membro do Instituto Americano de Arquitetos (AIA) [5]. No início de sua carreira enfrentou várias barreiras para conseguir uma colocação no mercado de trabalho. Posteriormente lecionou na Universidade da Califórnia em Los Angeles, Estados Unidos, e trabalhou em diversos escritórios [6]. Em 1985 tornou-se a primeira mulher negra a ter sua própria empresa de arquitetura, a Siegel, Sklarek, Diamond, dirigida exclusivamente por mulheres [7]. Entre seus projetos conhecidos estão a Câmara Municipal em San Bernardino, Califórnia e a Embaixada Norte-Americana no Japão (1976).

Amaza Lee Meredith 

Nascida em 1895 na cidade de Lynchburg, Virgínia, Amaza Lee Meredith é considerada importante artista e arquiteta negra na história, conseguindo ultrapassar os limites de sua época nas questões de gênero e raça. Completou sua graduação (1930) e mestrado (1934) na Universidade Columbia, formando-se em Belas Artes [8]. Um ano depois fundou o Departamento de Artes da Virgínia [9] e assim conseguiu trabalhar em inúmeros trabalhos de arquitetura e interiores, sendo o mais conhecido deles sua residência particular, a Azurest South, projetada em 1938, pensada como uma residência que partia de princípios do Estilo Internacional divulgado pelos arquitetos modernistas.

Annette Fisher

Nascida no Reino Unido e criada na Nigéria, Fisher foi a primeira mulher negra e ser eleita integrante do Conselho RIBA (Instituto Real Britânico dos Arquitetos), em 1999 [10]. Um ano depois tornou-se a vice-presidente de comunicações do Instituto, até que se tornou presidente [11]. Formou-se em 1983 pela Universidade de Strathclyde, em Glasgow, Escócia [12]. Sua carreira profissional se estende entre inúmeros escritórios e projetos no Reino Unido, África e Estados Unidos. Entre várias nomeações, Fisher ganhou em 1997 o NatWest Award para Profissional Africano do Ano [13] e no mesmo ano abriu seu próprio escritório, o Fisher Associates (FA-Global), localizado na cidade de Chelsea, Reino Unido, onde desenvolve projetos de arquitetura e urbanismo de diferentes escalas, com foco em planejamento participativo.

Beverly Loraine Greene 

Acredita-se que Beverly Greene foi a primeira mulher afro-americana a receber a licença para atuar como arquiteta nos Estados Unidos [14]. Formada pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, Greene concluiu mestrado em planejamento urbano pela Universidade de Columbia [15]. Em Nova Iorque, a arquiteta teve a oportunidade de atuar com diversos profissionais renomados da época, sendo dois deles os arquitetos Edward Durell Stone e Marcel Breuer. Durante o trabalho com Breuer, Greene desenvolveu o seu maior projeto. A Sede da UNESCO em Paris, de 1953. A arquiteta faleceu em 1957 e, segundo o jornal New York Amsterdam News, o velório aconteceu em um dos prédios de sua autoria na cidade de Nova Iorque [16].

Allison Williams 

Em mais de 35 anos como arquiteta, Williams ocupou diversos cargos de destaque nos escritórios em que passou, destacando-se SOM, Perkins+Will e AECOM [17], atuando em áreas como arquitetura corporativa, utilizando princípios da sustentabilidade e tecnologia ambiental. Em 2017, Williams, funda seu próprio escritório o AGWms_studio, onde trabalha com uma equipe interdisciplinar para desenvolver projetos que moldem um futuro melhor. Além de todo o trabalho desenvolvido em escritórios de arquitetura, Allisson Williams, possui um extenso currículo de contribuições como palestrante e mentora da futura geração. Para mais, Williams tem uma vasta lista de concursos de projeto e premiações das quais ela compôs o corpo de jurados, somado com as suas várias participações em eventos com palestrante, Allison Williams está na lista das "Mulheres Mais Influentes de 2014" pelo San Francisco Bussiness Time [18]. Alguns dos projetos de destaque de Williams e AGWms_studio é a Universidade Princess Nora Abdulrahman na Arábia Saudita, a maior universidade do mundo projetada para mulheres, e o Laboratório de Medição Científica no Centro de Pesquisa Langley da NASA.

Conselho de Williams para jovem arquitetas: "Ser uma mulher só é um problema quando se faz disso um problema e deixa esse problema interferir. Gênero não supera ou inibe talento, foco, liderança e autenticidade.” (em tradução livre pela autora da frase: "Being female is only an issue when it’s made to be and when one allows it to interfere. Gender does not trump or inhibit talent, focus, leadership, and authenticity.")

Georgia Louise Harris

Nascida no Kansas em 1918, pode ser considerada a segunda mulher afro-americana licenciada como arquiteta nos Estados Unidos [19]. Formada pela Universidade Washburn e mais tarde no Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago, onde frequentou aulas do arquiteto modernista Mies van der Rohe [20]. Seu contato com a arquitetura de aço e vidro em Chicago conduziu sua carreira inserida numa geração que reconstruía a cidade e suas edificações. Seu conhecimento em estruturas a levou a trabalhar no escritório Frank J. Kornacker Associates, que mantinham uma proximidade com Mies, projetando arranhas-céus e outros edifícios modernistas. Georgia era a única mulher na equipe de projetistas e calculistas.

Fascinada pelos planos modernistas que rondavam a construção de Brasília e querendo distanciar-se da perseguição racial que tomava conta do Estados Unidos, a arquiteta mudou-se para o Brasil em 1953 [15] e passou a trabalhar na firma Charles Bosworth Ltda. [21]. Em 1954 funda seu próprio escritório. Durante sua permanência no Brasil, Georgia realizou conhecidos projetos na cidade de São Paulo, como a renovação do prédio do Citybank, a fábrica da Ford Motors em Osasco, a sede regional da Pfizer em Garulhos e e fez parte da equipe que desenhou as instalações do Parque do Ibirapuera em sua inauguração no IV Centenário de São Paulo [19]. Aposentada em 1993, Georgia Louise Harris Brown voltou para os Estados Unidos. A arquiteta faleceu em 1999, em Washington.

Martha Cassell

Nascida em 1925, Martha Cassell atuou ao longo de toda a sua vida profissional em seu país de origem. A arquiteta foi a primeira mulher negra a se formar na Faculdade de Arquitetura da Universidade Cornell [22]. Apesar do preconceito social e racial que permeava a sociedade na época, a arquiteta foi escolhida para trabalhar na grande obra de restauração da Catedral Nacional de Washington [23]. Um dos motivos da contratação foi o vasto conhecimento que ela possuía sobre o estilo arquitetônico gótico, presente na igreja em questão. Martha foi responsável pelos desenhos em perspectiva, representações, figuras escultóricas em argila e detalhes decorativos, tendo trabalhado por quase 10 anos no projeto.

ARQUITETURA

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LeAnn Shelton

Com uma carreira sólida na arquitetura, Shelton é Diretora Geral de Negócios do Rockwell Group, uma empresa multidisciplinar com escritórios em Nova York, Shangai e Madri. Entre várias experiências em sua carreira, LeAnn Shelton trabalha em organizações e projetos governamentais, como o Plano de Desenvolvimento Estratégico do Distrito de Coney Island e o Campus 14th Street do Instituto Pratt. Atua nos conselhos de várias organizações de arte e design e palestras sobre arte pública, desenvolvimento econômico e cultural e design urbano em todo o país. Atualmente, LeAnn atua na Divisão de Lei do Conselho de Artes e Museus do ABA (Associação Americana de Advogados Voluntários), e como membro público do Conselho Legislativo de Nova York (New York Loft Board) e arquiteta participante da Comissão de Desenho Urbano da cidade de Nova York. [24]

Linda Mvusi

Formada desde 1980 pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Gana, Linda Mvusi tornou-se amplamente conhecida como a primeira mulher sul-africana a ser premiada no Festival de Cannes de Cinema, por sua atuação no filme "A World Apart", em 1988 [25]. Entre os seus trabalhos mais conhecidos está o Museu do Apartheid, em Joanesburgo, no qual trabalhou como coordenadora do projeto, em 2001. O projeto tornou-se premiado por excelência em 2004 pelo Instituto de Arquitetos da África do Sul. Atualmente dirige seu escritório Mvusi & Mvusi Architecture & Design, em Joanesburgo.

Clarissa R.  Francois 

Formada pelo Instituto Politécnico Renssealaer, em Nova Iorque, Clarissa Francois é norte-americana e carrega em sua experiência uma série de escritórios por onde passou. Vencedora da bolsa para grandes profissionais afro-americanos de arquitetura, o Jumaane Omar Steward Award, a arquiteta possui credenciais LEED AP BD+C, produzindo projetos pensados em sua eficiência energética e sustentabilidade. Atualmente, Francois trabalha como Coordenadora de Projetos no escritório Jack L. Gordon Arquitetos, desenvolvendo projetos pensados para o desenho urbano, arquitetura comercial em média e grande escala. [26]

Roberta Washington

A arquiteta possui bacharelado pela Universidade de Howard e mestrado pela Universidade de Columbia. Em 1983, fundou a Roberta Washington Architects, as principais áreas de atuação da empresa são desenvolvimento de projetos arquitetônicos de centros de saúde, escolas públicas, museus e residências acessíveis para a população de baixa e média renda. Destaca-se a preocupação social da arquiteta na promoção da cultura, saúde e educação. Além dos trabalhos desenvolvidos em Nova Iorque, dirigiu um Estúdio de Arquitetura em Maputo, Moçambique [27]. Com uma carreira multifacetada, integrou a Comissão de Preservação de Patrimônio Arquitetônico da Cidade de Nova Iorque (NYC Landmarks Preservation Commission) [28]. Arquiteta com certificação LEED-AP desde 2003, foi presidente do NOMA (Organização Nacional dos Arquitetos Minoritários), entre outros cargos em organizações de grande prestígio na arquitetura [29]. Entre os projetos de sua autoria e de destaque estão um condomínio “verde” de 128 unidades no Harlem (mais de 60 por cento de sua estrutura foi construído com material reciclável e renovável), o Centro de Visita ao Monumento Nacional do Cemitério Africano em Manhattan e a primeira escola da cidade de New Haven com certificação LEED.

Yolande Daniels

Formada pela City College e mestre pela Universidade de Columbia, Daniels foi contemplada com diversas bolsas para pesquisas envolvendo espaço, raça e gênero. Com o projeto intitulado “Lugares de Escravo”, Daniels veio ao Brasil documentar os espaços destinados aos escravos brasileiros [30]. A pesquisa foi fomentada pela seção regional de Nova Iorque do Instituto de Arquitetos Americanos, em 1996. É co-fundadora do Studio SUMO, em parceria com o também arquiteto Sunil Bald, que possui como premissa a inclusão dos contextos físicos, culturais e sociais no desenvolvimento de seus projetos institucionais, residenciais e instalações artísticas. Seu trabalho no SUMO foi amplamente reconhecido com premiações e honrarias, dentre elas o Prêmio de Jovem Arquiteto (tradução livre de Young Architects Award), concedido pela Liga Arquitetônica de Nova Iorque (tradução livre de Architectural League of New York) [31]. A arquiteta é professora visitante do MIT, além de ter lecionado na Universidade de Columbia, City College, Universidade de Michigan e no Instituto Pratt, foi titular da Silcott Chair na Howard University e diretora Interina do Programa de Mestrado em Arquitetura da Escola de Ambiente Construído da Parsons - The New School [32].

ARQUITETURA E REPRESENTATIVIDADE

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Mabel O. Wilson

Formada pela Universidade da Virgínia (USA). Wilson possui contribuições nas áreas da arquitetura moderna, design e artes visuais. É bem conhecida por ter sido finalista dos concursos para o Museu Nacional da História e Cultura Afro Americana (junto a Diller Scofidio + Renfro - NMAAHC) e para o Monumento Nacional do Cemitério Africano (African Burial Ground National Monument). Trabalha atualmente em seu escritório, o Studio And, ocupa o posto de co-diretora do Laboratório Global da África e desde 2007 leciona na Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação, na Universidade Columbia (GSAPP, Columbia University), onde ensina arquitetura, teoria e história [33]. Pesquisadora no Instituto de Pesquisa em Estudos Afro Americanos (Institution for Research in African American Studies) e fundadora do projeto Who Builds Yours Architecture? (WBYA). Em 2011 tornou-se integrante da Associação dos Artistas do Estados Unidos em Arquitetura e Design, e possui livros publicados como "Comece pelo passado: Construindo o Museu Nacional da História e Cultura Afro Americana" e "Edifício Negro: Afro Americanos no Mundo das Exposições e Museus" (tradução livre, pela autora de Begin With the Past: Building the National Museum of African American History and Culture e Negro Building: Black Americans in the World of Fairs and Museums), ambos não disponíveis em português.

Patty Anahory

Patricia Anahory, como também é conhecida, nasceu em Cabo Verde e teve sua formação acadêmica nos Estados Unidos. A arquiteta possui mestrado pela Universidade de Princeton e é graduada pela Escola de Arquitetura de Boston. Arquiteta e ativista, em 2009 foi diretora fundadora do Centro de Investigação em Desenvolvimento Local e Ordenamento de Território na Universidade de Cabo Verde [34]. Possui importantes publicações como o artigo "Reframing the Body: a Women's Prison" (“Ressignificando o Corpo: Uma Prisão das Mulheres” - tradução livre), que discute e expõe questões de gênero, e sua tese de Mestrado "Homing Landscapes: Mapping Memory[a]" (“Paisagens locais: Mapeando Memória” - tradução livre), onde trata as questões da memória escravista sobre a visão de uma arquitetura que remodelou conceitos de identidade cultural no desenho urbano [35]. O Memorial da Escravatura em Dakar, Senegal se destaca entre seus projetos desenvolvidos [36]. Participa de júris de prêmios e bienais de arte e arquitetura. Atualmente dirige o laboratório XU:collective, um coletivo de arte interdisciplinar e atelier profissional, que propõe uma compreensão crítica das dinâmicas urbanas, arquitetura e colabora em uma plataforma de mídia participativa e projetos de mapeamento desenvolvidos com o envolvimento direto das comunidades em contextos marginalizados.

Lesley Lokko 

É arquiteta, acadêmica e escritora. A arquiteta, filha de um pai ganês e mãe escocesa, estudou no Instituto Bartlett de Arquitetura e possui PhD pela Universidade de Londres [37]. Atualmente é professora adjunta e chefe do Instituto de Pós-Graduação de Arquitetura na Universidade de Joanesburgo. Sete anos após se formar, Lokko tornou-se escritora. Autora de oito livros, entre eles "Bitter Chocolate", "Sundowners" e "One Secret Summer", Lokko também é colaboradora periódica no site Architectural Review [38] e da BBC World [39], além de contribuir com palestras sobre identidade, natureza especulativa do espaço e o urbanismo africano [40]. Lokko compõe, com frequência o júri de concursos internacionais e de simpósios.

Yewande Omotoso

Nascida em Barbados e criada na Nigéria, Yewande Omotoso é arquiteta e escritora. Formada em arquitetura pela Universidade da Cidade do Cabo, cursou anos depois um mestrado em Escrita Criativa, tornando-se autora de livros ficcionais, sendo Bom Boy um dos mais conhecido entre eles, que se passa em território sul-africano pós-apartheid. O livro recebeu premiações como o Sul Africano Sunday Times Fiction Prize e o Prêmio Literário Sul Africano para Obra de Estreia, entre outros [41]. O reconhecimento de Omotoso como autora se eleva nas discussões que ela faz, tanto em suas entrevistas como em seus livros, sobre o Pan Africanismo e dos estereótipos sobre a África, além de debater, através de suas publicações, questões sobre identidade, cultura e feminismo na África, um debate a ser relembrado constantemente diante de culturas tradicionalmente patriarcais e misóginas advindas no continente africano [42]. Ela vive atualmente em Joanesburgo, onde prática ambas as profissões como arquiteta e escritora.

ARQUITETURA SOCIAL

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Doreen Adengo

Licenciada desde 2009 pelo Instituto Americano dos Arquitetos, Doreen Adengo, foi a primeira Ugandiana a obter o título de Mestre em Arquitetura [43], em 2005, pela Universidade de Yale. Depois de concluir seus estudos de graduação e pós-graduação na Universidade Católica e em Yale, respectivamente, Doreen trabalhou para diversos escritórios em Londres, Washington DC e Nova York. Ela lecionou na The New School e no Pratt Institute, em Nova York, e na Uganda Marty's University, e até recentemente atuava como crítica visitante na Universidade de Joanesburgo [44]. Um de seus trabalhos mais conhecidos é a pesquisa em Planejamento Urbano e Desenvolvimento Habitacional Acessível para a cidade de Kampala, Uganda.

Liz Ogbu 

Formou-se em 1998 na Escola Wesllesley, em Massachusetts, passando posteriormente por Harvard e Stanford. Liz trabalha com projetos que tenham um impacto social como referências para a sociedade, definindo-se como ‘projetista, urbanista e inovadora social’. Fundadora e líder do Studio O. [45], Liz Ogbu tem seu próprio escritório desde 2012 e participa de um projeto para elaboração e desenvolvimento de inovações residencias, o IDEO [46]. Liz Ogbu é referência em design sustentável com inovações espaciais, fortalecendo comunidades e influenciando empresas como a Fundação Nike e PG&E.

Essa ideia pode ser vista e melhor compreendida na sua palestra no TEDTalks: "Why I'm an architect that designs for social impact, not buildings". (“Por que eu sou uma arquiteta que projeta para impacto social e não para edifícios.” - tradução livre)

Heather P. O'Neal

Integrante do Instituto Americano de Arquitetos (AIA) e formada pelo Instituto Pratt, em Nova York, Heather P. O'Neal foi reconhecida em 2005 como uma dos grandes membros Highlights do NYCOBA|NOMA, uma organização que promove e associa profissionais de arquitetura e do design de grupos minoritários, como afro-americanos, tendo ocupado o cargo de presidente da organização [47]. Heather P. O'Neal possui mestrado pela Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação, na Universidade Columbia (GSAPP, Columbia University) [48], e desenvolve projetos como escolas públicas, habitações multifamiliares, e interiores de edifícios corporativos. Atualmente, a arquiteta coordena seu escritório, o Terrence O’Neal Architect LLC, e leciona como professora adjunta no Instituto de Tecnologia de Nova Iorque. Entre os projetos desenvolvidos pela arquiteta, estão a residência Lorraine Montenegro para crianças e mulheres no Bronx e a biblioteca da escola pública Old Boys Ensino Médio.

Nicole Hollant-Denis

Norte-americana descendente de haitianos, Hollant-Denis é integrante do AIA e NOMA (Organização Nacional dos Arquitetos Minoritários). Formou-se em 1988 na Universidade Cornell, concluindo seu mestrado na Universidade de Harvard em 2000 [49]. Em grande parte de sua carreira, a arquiteta rege o escritório Aaris Design Studios, desenvolvendo projetos de média e grande escala por mais de 15 anos. Entre seus projetos marcantes, destacam-se os projetos de museu e os projetos educacionais, como o African Burial Ground National Monument [50], em Nova Iorque. Nicole Hollant-Denis, destacou-se também em competição de arquitetura residencial promovida após o terremoto no Haiti em 2010, chegando a finalista. Entre outros projetos que participou estão uma das conexões do terminal do Aeroporto Internacional JFK e escritórios comerciais na cidade de Nova Iorque (Met Life Offices em Bay Ridge, Brooklyn).

Anna Abengowe

Criada na Nigéria, Anna Abengowe trilhou seus caminhos na arquitetura na América do Norte. Possui mestrado pela Universidade Princeton (1997) e atua como arquiteta em várias localidades como Marrocos, Nova Iorque e Nigéria [51]. Seu nome alcançou maior reconhecimento após compor um corpo de jurados da Premiação da Arquitetura Africana 2017 (em livre tradução pela autora para African Architecture Awards 2017) [52], onde foram premiados projetos e profissionais dentro do campo da arquitetura que tiveram importância e mérito como representantes continentais africanos para a arquitetura mundial. Anna Abengowe discute constantemente a necessidade de se desmitificar a visão de África que foi construída e de se trazer a visão da arquitetura pan-africana para as discussões da arquitetura mundial contemporânea [53].

Camile Mitchell 

Graduada e pós-graduada na Universidade de Waterloo, Canadá (2006 e 2009, respectivamente) [54], Camile Mitchell é arquiteta no KPMB, importante escritório localizado em Toronto, Canadá. Através da organização BEAT (Building Equality in Architecture, Toronto / Construindo Igualdade em Arquitetura Toronto - tradução livre), ela luta pela equidade das mulheres na arquitetura como mentora e estabelecendo contatos com mulheres arquitetas. Mitchell também é voluntária educacional, ensinando arquitetura para jovens e crianças [55].

URBANISMO E PAISAGEM

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Elsie Owusu

Nascida em Gana, Elsie Owusu vive em Londres, onde leciona na Escola de Arquitetura de Londres [56]. Presidente de sua própria empresa, a Elsie Owusu Architects a arquiteta possui especialização em Preservação Arquitetônica e Infraestrutura na Mobilidade Urbana. Owusu é uma das integrantes do Instituto Real Britânico dos Arquitetos (RIBA), sendo premiada como a Mulher do Ano em Negócios Africanos de 2014 [57]. Entre vários de seus projetos, destaca-se o plano diretor da Estação Green Park, em Londres; a atuação como arquiteta-chefe na remodelação de artes e interiores da Suprema Corte do Reino Unido e o planejamento dos sistemas de transportes públicos na cidade de Lagos (Nigéria) e Accra (Gana). Elsie é diretora das companhias JustGhana Ltd e ArchQuestra, dedicadas respectivamente ao investimento na sociedade e cultura de Gana e ao suporte à economias emergentes por meio de profissionais ingleses de arquitetura e engenharia [58]. Fundadora e primeira cadeira da Sociedade dos Arquitetos Negros, a arquiteta denunciou um dos membros do RIBA por racismo institucional e sexismo, em 2015 [59].

Angela Mingas

Conhecida pelo trabalho realizado como Secretária de Estado e do Ordenamento Territorial de Angola entre 2017 e 2018, Angela Mingas é especialista em Patrimônio Arquitetônico e Semiótica Urbana. Estudou em instituições como a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e Academia Real de Londres, possuindo formação em Pedagogia, Arquitetura e Antropologia [60]. Em sua carreira acadêmica, Angela foi fundadora e coordenadora do Centro de Estudos e Investigação Científica de Artes, Arquitetura, Urbanismo e Design na Universidade Lusíada de Angola (CEICA-AAUD) desde 2003. Em 2006, tornou-se curadora do Fórum de Arquitetura da Angola. Participou de projetos como a Universidade Lusíada de Angola, onde leciona, e o Pavilhão da Angola na Expo 2008 em Zaragoza, na Espanha.

Tonja Adair 

Nome conhecido na arquitetura e no design, Tonja Adair é associada do NYCOBA|NOMA (organização que promove e associa profissionais da arquitetura e do design afro-americanos) e do AIA (Instituto Americano de Arquitetos). A arquiteta possui um renomado escritório de design, arquitetura e desenho urbano, o Splice Design, em Nova York. Formada desde 1992 pela Wellesley College, Adair desenvolve seus trabalhos com base nas perspectivas e análises dos usuários e do ambiente, contribuindo com projetos e empreendimentos em todo o mundo [61].

Mpho Matsipa

PhD em Urbanismo Africano pela Universidade da Califórnia, em Berkeley [62], Mpho Matsipa explora temas ligados à globalização, informalidade urbana, justiça espacial e as políticas de raça, gênero e estética nas cidades sul-africanas. A arquiteta ganhou em sua vida acadêmica bolsas em renomados programas, como a Fullbright Program e o Carnegie Grant. Lecionou em instituições como a Universidade de Witswatersrand, em Joanesburgo e atualmente é professora adjunta na Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação, localizada na Universidade da Columbia (GSAPP, Columbia University). Matsipa escreveu ensaios críticos e resenhas sobre arte pública, cultura e espaço para revistas e trabalha como curadora no laboratório Studio X Johannesburgo e exposições, como o Pavilhão Sul-Africano na 11ª Exibição de Arquitetura Internacional, da Bienal de Veneza, em 2008 [63].

Mariam Issoufou Kamara 

Nascida em Niamey, Níger, a arquiteta possui mestrado em Ciências da Computação (Universidade Purdue, Indiana) e Arquitetura (Universidade de Washington), com sua tese Mobile Loitering (2013), onde discute sobre as questões de gênero no espaço público em Níger, na África. Atualmente, Kamara é professora adjunta de Estudos Urbanos na Universidade Brown, nos Estados Unidos, mantendo também seus trabalhos no projeto united4design da ONU Habitat, vencedor de várias premiações e desenvolvido para reabilitar áreas da cidade de Niamey, Nigéria. É também em Niamey que está localizado seu escritório, o Atelier Mosomi. Recentemente, a arquiteta obteve reconhecimento internacional ao ser selecionada para participar do Biênio Rolex Arts Initiative 2018-2019, um programa que seleciona grandes artistas de diferentes lugares e gerações para troca de experiências e conhecimentos na área com grandes nomes da arquitetura mundial. Mariam foi selecionada na categoria arquitetura e receberá mentoria do arquiteto David Adjaye [64]. A arquiteta busca desenvolver projetos cultural, histórico e ambientalmente referenciados, com a utilização de técnicas e materiais locais. Entre os trabalhos mais conhecidos estão a Escola Primária Kollo (2017) e a Biblioteca Dandaji.

Emma Miloyo 

Presidente da Associação de Arquitetura do Quênia, Emma Miloyo é a primeira mulher a ocupar o cargo [65]. Criadora do escritório, Design Source em 2007, procura contribuir com projetos para a construção e sustentabilidade necessárias para o desenho urbano, como smart cities e o desenvolvimento de obras de baixo custo, estabelecendo projetos na África do Sul, Quênia, Nigéria e Tanzânia. Nascida em Nairobi, Miloyo é graduada na Universidade de Agricultura e Tecnologia Jomo Kenyatta em 2006. Desde de 2014 é diretora e co-fundadora da Escola Kiota [66], Quênia, uma escola de primeira infância que busca formar as mentes jovens para transformar o mundo em um lugar melhor. Miloyo tem tido sucesso em mais do que alcançar as suas metas, inspirando e ajudando jovens mulheres a romper as barreiras em campos tipicamente dominados por homens [67]. Emma Miloyo também soma no empoderamento feminino dentro do mercado de trabalho, colaborando com vários coletivos, como WIRE (Women in Real Estate) e a Fundação Exbomarian Education Trust Fund.

ARQUITETURA E DESIGN

via Arquitetas Invisíveis

Sheresse Trumpet

Originária da ilha de São Vicente e Granadinas, no Caribe, Sheresse graduou-se em Arquitetura pela The City College of New York em 2017 e destaca-se por sua excelência acadêmica em iniciativas de arquitetura e liderança. Ao longo de sua formação, trabalhou em escritórios de arquitetura e design e presidiu o Instituto Americano de Estudantes de Arquitetura por um ano [68]. Trumpet já foi contemplada com diversas premiações, como o Megan Lawrence Memorial Award, pela Liberal Arts Honors Scholar; o Prêmio pela Diversidade da nycoba|NOMA e a bolsa de estudos do Centro de Arquitetura Heritage Ball. É também integrante da National Society of Leadership and Success e da AIAS - City College Chapter [69]. Em março de 2017, foi eleita um dos 20 arquitetos e designers de destaque na exposição "Say It Loud", que celebra e destaca o trabalho distinto de profissionais negros, hispânicos e asiáticos em todo os Estados Unidos [70].

Jennifer Newsom Carruthers

Jennifer N. Carruthers é designer e arquiteta. Possui graduação e mestrado pela Universidade Yale, com um currículo que abrange desde projetos arquitetônicos a produções conceituais de instalações e intervenções artísticas. Carruthers já passou por escritórios como Robert A. M. Sterns Architects (Nova York), Adjaye Associates (Londres), Deborah Berke [71] e atualmente trabalha em seu estúdio, localizado em Minneapolis, chamado Dream The Combine. Comandado por ela e por seu parceiro, Tom Carruthers, o estúdio procura trabalhar projetos arquitetônicos com sobreposições conceituais na arte, arquitetura e teoria cultural, com instalações específicas nos Estados Unidos e no Canadá. A arquiteta também atua na acadêmia, tendo atuado como instrutora na Juxtaposition Arts, e hoje como professora na Universidade de Minnesota e publicando textos como “Does African-American Architecture Exist?” (Existe uma arquitetura afro-americana?). Ela e seu parceiro foram uns dos ganhadores do Programa para Jovens Arquitetos do MoMA - Museu de Arte Moderna em 2018 (em tradução livre da autora para o 2018 MoMA PS1 Young Architects Program) (Museu da Arte Moderna), no qual projetaram uma instalação externa no pátio do MoMA PS1. Uma de suas instalações mais conhecidas é a Longing.

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Este artigo foi atualizado no dia 08 de março de 2019 após uma colaboração entre o coletivo Arquitetas Invisíveis, nycoba|NOMA e a equipe editorial do ArchDaily.

Sobre este autor
Cita: Arquitetas Invisíveis. "Representatividade importa: conheça 31 arquitetas negras" 08 Mar 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/891887/representatividade-importa-conheca-31-arquitetas-negras> ISSN 0719-8906

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