Por que os arquitetos deveriam começar a ser um pouco mais egoístas

© Unsplash user Cassie Boca

O economista e filósofo liberal escocês Adam Smith argumentou: "Sentir muito pelos outros e pouco por nós mesmos, restringir nosso egoísmo e exercer nossas afrontas benevolentes, constitui a perfeição da natureza humana". Embora tenhamos mudado um pouco desde o século XVIII , o egoísmo ainda é visto por muitos como um dos traços mais feios do ser humano.

No entanto, com as discussões sobre mindfulness e a crescente indústria de auto-ajuda, o olhar para o egoísmo - ou melhor, "autocuidado" - está mudando, o que não é necessariamente uma coisa ruim.

Um dos principais princípios da mindfulness nos ensina que ao sermos compassivos com os outros, devemos ser compassivos com nós mesmos também. A teoria diz que é muito mais fácil ser gentil e amoroso com os outros se somos primeiro amáveis ​​e amorosos com nós mesmos.

Os atos de bondade para nós mesmos não precisam ser grandes gestos. Eles podem ser tão simples como cozinhar uma refeição saudável e apreciá-la com calma, gastar vinte minutos lendo um livro ou nos permitindo dormir cedo, apesar dos curtos prazos de projeto.

No entanto, a maioria dos arquitetos provavelmente admite que não adere a esse mantra de maneira nenhuma. Trabalhamos madrugadas inteiras, muitas vezes não remuneradas. Produzimos centenas de desenhos para chegar a um projeto final. Tratamo-nos sem compaixão quando praticamente pagamos para trabalhar ou mendigamos um pouco da atenção do cliente. Muitos de nós conhecemos algum colega que se preocupa mais com detalhes de tijolos do que com sua própria estabilidade mental. Eles chegam cedo, vão embora tarde e não param para o almoço, tudo para garantir que os habitantes de determinado edifício nunca encontrem as juntas entre os materiais ou qualquer outro possível defeito no projeto.

Há um forte argumento de que a filosofia masoquista do arquiteto surge na Universidade. Uma amiga minha, que está cursando seu mestrado, recentemente me contou como os alunos estavam trabalhando até as 5 da manhã - no primeiro ano- e como ninguém queria ser o primeiro a ir embora. Ela tentou explicar o que sentiu dizendo que parecia estar "em um liquidificador, tentando não deixar meus pés tocarem as lâminas no fundo". Quando dou palestras nas universidades, o feedback geral que eu ouço de estudantes é que eles não acreditam que são bons o suficiente e são muito mais críticos em relação aos seus próprios trabalhos do que sobre os trabalhos dos outros. A despreocupação em relação a nós mesmos começa neste estágio inicial de nossas carreiras.

Essa falta de auto-compaixão permeia todos os aspectos de nossas vidas. Tornamo-nos miseráveis. Dormimos mal, se é que dormimos. Não nos alimentamos corretamente. Vemos menos a nossa família e amigos do que deveríamos. Onde eu trabalho, no Reino Unido, 38% dos arquitetos com menos de 30 anos dizem que a saúde mental é sua maior preocupação no local de trabalho (de acordo com a AJ Life em Practice Survey), sendo que 52% dos estudantes de arquitetura receberam ou se preocupam em futuramente receber ajuda psicológica. Esta tendência deve continuar nos próximos anos.

Além disso, há poucas evidências que digam que investir mais de 40 horas por semana trabalhando ofereça muitos benefícios em termos de produtividade. Quando a equipe regularmente excede isso, as taxas de adoecimento aumentam e a felicidade e a motivação diminuem. Estima-se que 49% dos dias úteis perdidos por empresas do Reino Unido a cada ano são resultado do estresse relacionado ao trabalho. Trabalhar regularmente 60 horas por semana não é, portanto, apenas ruim para nós, como também não faz sentido em termos de produtividade ou produção - um problema que a economia britânica continua tentando combater.

Então, parece que chegou o momento de nós arquitetos adotarmos algumas das lições de autocuidado que a mindfulness ensina. 2018 deve ser o ano em que nós, como arquitetos e estudantes, faremos pausas de almoço e veremos mais nossos amigos e familiares. Vá embora do escritório antes do chefe. Vamos ser mais felizes e vamos ser mais egoístas. Duvido que nossos projetos sofrerão por causa disso.

Ben Channon é um Arquiteto Sênior e Embaixador de Bem-estar Mental na Assael Architecture. Fundou recentemente o Fórum de Bem-estar Mental dos Arquitetos no Reino Unido e administra o Instagram @mindful.inspiration. Ele também está atualmente escrevendo um guia sobre arquitetura e bem-estar mental.

Sobre este autor
Cita: Channon, Ben. "Por que os arquitetos deveriam começar a ser um pouco mais egoístas" [Why Architects Should Start Being a Little More Selfish] 16 Fev 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/888839/por-que-os-arquitetos-deveriam-comecar-a-ser-um-pouco-mais-egoistas> ISSN 0719-8906

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