Conversa com os curadores do pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

Com a proximidade da Bienal de Arquitetura de Veneza 2018, o ArchDaily Brasil entrevistou os curadores do pavilhão brasileiro - Laura González Fierro, Sol Camacho, Gabriel Kozlowski e Marcelo Maia Rosa - para compreender melhor a proposta curatorial e elucidar detalhes da participação do público nessa empreitada.

Leia a entrevista a seguir:

Como começa 2018 para a equipe curatorial do pavilhão do Brasil para a 16ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza?

Entramos 2018 com grandes expectativas e bastante trabalho pela frente!

No final de dezembro – dia 19 – lançamos o primeiro chamamento público de projetos para um pavilhão do Brasil em Veneza e com isto pretendemos tentar ampliar a conversa sobre como o país deve se mostrar para o mundo. Isso abre a possibilidade de mostrarmos projetos não tão conhecidos, de escritórios novos e de localidades diversas.

Qual é o propósito do chamamento?

A finalidade do chamamento é mostrar uma produção nacional de arquitetura que diretamente lide com o tema do muro, da divisão, da fronteira, da mediação de conflitos.

O chamamento não é um concurso sobre o melhor ou mais belo projeto. A ideia dessa parte da exposição é, através de projetos, conseguir formar um argumento: mostrar o papel da arquitetura como instrumento de negociação em situações urbanas.

Claro que não quer dizer que elementos fundamentais à arquitetura - como articulações espaciais, programa, estética e tectônica, por exemplo - não sejam considerados. Ao final, a arquitetura não é um argumento teórico e sim o espaço para interação humana, mas queremos dar ênfase aos projetos que lidem com esta problemática da separação e que, em suas soluções, agreguem valor à cidade. 

Por que isso é importante? 

A Bienal de Veneza é uma plataforma mundial para se conversar sobre arquitetura. Arquitetura em diversas dimensões e que tratem dos problemas atuais do mundo. Gostaríamos de aproveitar este espaço para mostrar como a produçao do nosso país têm enfrentado algumas dessas questões em pauta hoje, principalmente – e falando de maneira bem ampla – a questão dessa polarização e separação que nos tem afastado uns dos outros. Esses muros de ar que estamos constantemente construindo. 

Como surgiu a ideia de fazer o chamamento?

Fora do contexto brasileiro, a ideia em sí não é nada nova. Pelo contrário, é uma prática já muito disseminada em outros países. A Fundação Bienal nos convidou com a ideia de trazer vozes diversas, perspectivas diferentes. Somos dois estrangeiros trabalhando no Brasil, um de nós trabalhando fora há alguns anos, e os quatro operamos em escalas e contextos muito diferentes. Para nós isto pesou muito no sentido de querer reverberar esta ideia e assim trazer a maior diversidade possível de vozes à exposição. No fundo, o chamamento é um primeiro passo de um processo de democratização dessa exposição.

Quantos projetos serão escolhidos?

Não existe um número limite. Imaginamos mostrar algo entre 15 e 20 projetos. Estamos torcendo para ter uma boa resposta e quanto mais recebermos, melhor. Assim conseguiríamos ter uma verdadeira avaliação das possibilidades da arquitetura frente a esse tema no contexto das cidades brasileiras. 

Incentivamos a participação da comunidade da arquitetura. O processo é super simples, o material para enviar não demanda muito trabalho. Entrem no site (www.murosdear.org.br) e verão que, nessa primeira fase, só pedimos uma descrição e 4 desenhos ou imagens. Como é a primeira vez que isso é feito, tentamos facilitar o processo o máximo possível.

Qual é a data limite?

Dia 19 de janeiro as 23h00.

Como será a exposição destes projetos?

Uma vez feita a seleção pediremos aos autores dos projetos escolhidos para fornecerem o material definitivo dentro de um padrão. Procuramos ter uma mesma linguagem para todos para conseguir comunicar o conceito principal do modo como cada projeto lida com as divisões do contexto urbano onde se inserem. De novo, a ideia não é mostrar o projeto na íntegra, mas o aspecto específico de como cada um deles se relaciona com o tema da exposição.

Além disso, daremos o mesmo espaço para cada projeto, independente da escala ou reconhecimento nacional, dentro da primeira sala do Pavilhão.

Voces mencionam a primeira sala, o que acontecerá na segunda então?

Os projetos conformam uma primeira parte da exposição. Eles servirão como introdução ao tema “Muros de Ar”. A outra parte da exposição será composta por grandes desenhos cartográficos. Cada um deles discutirá diferentes aspectos da urbanização do país através das lentes da arquitetura. Eles tratarão de assuntos relacionados às diversas escalas de fronteiras e muros que foram levantados na construção do território brasileiro, e na própria arquitetura como disciplina.

Quem está trabalhando na produção destes desenhos?

Os grandes painéis estão sendo produzidos por nós quatro e uma equipe de jovens arquitetos trabalhando em três cidades (Sao Paulo, Rio de Janeiro e Cambridge nos Estados Unidos). Também contamos com a participação de um número incrível de consultores e núcleos de pesquisa académicos e entidades privadas de várias disciplinas. Essa foi uma decisão curatorial, reforçando a ideia de abrir a conversa e convidar profissionais com perspectivas diferentes a participar da exposição. Eles ligam a Bienal de Arquitetura com outros “mundos”. Divulgaremos a participação de todos os colaboradores nas próximas semanas, conforme formos consolidando as parcerias. 

Algum último comentário?

A Bienal é uma oportunidade de sair da conversa fechada de academia ou da produção profissional somente. É uma oportunidade para a integração desses ramos com diversos outros: empresas privadas, órgãos governamentais, empreendedores, financiadores e gestores da construção. 

Queremos reforçar que a arquitetura não se encerra em sí mesma e, por extensão, nem a Bienal deveria. Queremos tentar dar visibilidade ao processo e engajar a sociedade para construirmos pontes entre a arquitetura e outras disciplinas.

Enviaremos mais informação conforme progredimos até a abertura dia 24 de Maio. Fiquem atentos!

Conheça os curadores do pavilhão brasileiro na 16a Bienal de Veneza em 2018

A Fundação Bienal de São Paulo nomeou as arquitetas Laura González Fierro e Sol Camacho e os arquitetos Gabriel Kozlowski e Marcelo Maia Rosa como curadores da representação brasileira na próxima edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, que será inaugurada no sábado, 26 de maio e ocorrerá até o domingo, 25 de novembro de 2018.

Sobre este autor
Cita: Equipe ArchDaily Brasil. "Conversa com os curadores do pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018" 08 Jan 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/886664/conversa-com-os-curadores-do-pavilhao-do-brasil-na-bienal-de-veneza-2018> ISSN 0719-8906

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