INTERIORS: Stranger Things

Cortesia de Interiors Journal

Interiors é uma publicação online sobre o espaço entre a arquitetura e o cinema publicada por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Interiors elabora uma coluna exclusiva para o ArchDaily onde analisa e diagrama filmes em relação ao seu espaço físico.

A primeira temporada de Stranger Things, que estreou no Netflix em julho de 2016, carrega fortes influências de Steven Spielberg, John Carpenter e Stephen King, além de ter seus próprios méritos como resultado da inventividade de seus criadores, a dupla cinematográfica Matt e Ross Duffer.

A Interiors falou com o diretor de produção Chris Trujillo sobre os visuais da série e vários dos espaços principais utilizados durante a primeira temporada, incluindo o Laboratório Hawkins, a casa de Will Byers e, claro, o misterioso mundo invertido, que traz peças e pedaços do mundo real e os transforma em um espaço inteiramente próprio, que existe tanto como parte do mundo real como fora dele.

Stranger Things foi filmado nos arredores de Atlanta em pequenas cidades como Douglasville, Jackson e Stockbridge, com a esperança de que a locação parecesse "instantaneamente familiar" e poderia representar praticamente qualquer cidade nos Estados Unidos. Atlanta foi a escolha ideal para os cineastas, porque a cidade e seu entorno representavam um amplo espectro dos Estados Unidos arquetípico. Em termos de design de produção, poderia criar-se a aparência da vida americana dos anos 70 e 80 com modificações muito pequenas nas locações existentes.

Cortesia de Interiors Journal

O Laboratório Hawkins, por exemplo, funciona como uma entidade fria e imponente - um local que se destaca no contexto de Hawkins, Indiana. Nesse sentido, a proximidade com o centro das vidas dos personagens influencia fortemente na narrativa da série. Chris Trujillo observa que o espaço "funciona como um reflexo físico da Era Reagan", e efetivamente insinua a ansiedade da Guerra Fria na época.

O design dos espaços interiores das casas dos personagens, especificamente a casa de Will Byers, exigiu uma abordagem diferente. Os cineastas começaram com os próprios personagens e confeccionaram, de forma reversa, como seriam os espaços. "Começamos com os personagens, quem eles são emocionalmente, culturalmente, socioeconomicamente, e descobrimos como todos esses fatores teriam sido expressados no contexto das armadilhas da vida americana" neste período de tempo dado. Isto é melhor visto com a personagem de Joyce Byers (Winona Ryder), que usa luzes de Natal, que ela quase não consegue pagar, para se comunicar com seu filho Will, preso no mundo invertido. Joyce decora o interior de sua casa com essas luzes - e cobre uma parede inteira com o alfabeto - sua casa torna-se uma ferramenta para a comunicação com Will. A casa dos Byers torna-se cada vez mais manchada e úmida, tudo por causa da busca por Will.

O próximo passo no processo para os cineastas foi a disposição do espaço interno e a construção dos movimentos de câmera em torno dele, o que foi discutido entre os diretores, o diretor de fotografia e o produtor. A planta foi projetada de acordo, com considerável pensamento sendo colocado na proximidade de cada um dos quartos, com consciência sobre como a câmera iria navegar nesses espaços ao longo da série. O próprio espaço também foi projetado com o mundo invertido em mente, para cenas posteriores que mostram que a casa está sendo transformada ao adentrar no misterioso mundo paralelo. Em essência, o mundo invertido é uma dimensão alternativa; enquanto possui o mesmo layout geral e infraestrutura do mundo real, é muito mais ameaçador. Em cenas onde Will está preso lá, podemos ver claramente que ele está no "mesmo" espaço que sua mãe, que está na casa da família, embora em uma versão alternativa do espaço. Existem diferentes tipos de portais entre o mundo real e o invertido para que o público compreenda que estes são dois mundos diferentes, mas muito parecidos. Will descobrirá que ele pode se comunicar com sua mãe manipulando certos elementos desse mundo; por exemplo, ele descobre que pode manipular a eletricidade e se comunicar com ela através das luzes de Natal que ela instalou em sua casa.

Cortesia de Interiors Journal

Interiors desenhou uma planta da casa de Will Byers que representa o momento em que sua mãe, Joyce Byers, faz o primeiro contato com Will através das luzes de Natal após seu desaparecimento. Esta é uma cena crucial no episódio porque é o momento em que Joyce percebe que ela pode se comunicar com Will e que ele está vivo. Além disso, a casa dos Byers torna-se uma locação importante na série depois desta cena, já que Will sabe que pode se comunicar com sua família a partir daí.

O espaço do mundo invertido tornou-se, para os cineastas, "a colaboração mais criativa e laboriosa de toda a temporada". Isso ocorreu principalmente porque a produção teve que transformar uma "fantasia compartilhada"  em um verdadeiro espaço físico.

A aparência final desse mundo invertido veio como resultado do trabalho em equipe entre efeitos físicos e visuais. Chris Trujillo afirma que a criação e o design do mundo invertido falaram bem sobre todo o processo cinematográfico: "depois de todos os altos e baixos logísticos, todos os insígnios criativos e depois de passar por milhares de contribuições diferentes", a conclusão final foi o que a equipe esperava que fosse.

Stranger Things, como resultado, é um casamento de ideias - das influências preexistentes com a sensibilidade moderna de seus cineastas. A primeira temporada é totalmente original, mas também bebe nas fontes do cinema das décadas de 1970 e 1980.

Os desenhos arquitetônicos e gráficos foram criados por Interiors (www.INTJournal.com).

Cortesia de Interiors Journal

Interiors é uma publicação online sobre o espaço entre a arquitetura e o cinema publicada por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Confira o site e a loja oficial e siga-os no Facebook eTwitter.

Sobre este autor
Cita: INTERIORS Journal. "INTERIORS: Stranger Things" [INTERIORS: Stranger Things] 27 Out 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/882473/interiors-stranger-things> ISSN 0719-8906

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