Mundo: começar do zero

Mundo: começar do zero

Do urbanismo a golpes de martelo do barão Haussmann em Paris, passando por Le Corbusier e pelos grandes eventos esportivos, à hiperurbanização na China: como a obsolescência programada se transfere das mercadorias para o território.

Destruição criativa

Como poderia um novo mundo ser criado sem a destruição de boa parte do que veio antes? Esse dilema moderno tem o seu arquétipo literário no Fausto de Goethe. Escrito entre 1770 e 1831, o livro atravessa, na própria história de sua redação, eventos históricos cruciais, como a Revolução Francesa, por exemplo. Assim, traduzindo literariamente a passagem do mundo estagnado do mercantilismo, com suas barreiras comerciais e seus monopólios, para a ampla liberdade do mercado sem fronteiras, a história épica de Fausto descreve um universo no qual os maiores valores positivos são a mobilidade e a transformação, guiados pela livre iniciativa e pela abertura de espaços para as novas construções.

Uma passagem crucial da obra ocorre quando Fausto e Mefisto se encontram no alto de uma montanha contemplando o espaço vazio e infinito a seus pés. Fausto então esbraveja de súbito, questionando furiosamente o fato de os homens deixarem as coisas tal como sempre foram. Em suas palavras: “Não é já o momento de o homem afirmar-se contra a arrogante tirania da natureza, de enfrentar as forças naturais em nome do ‘livre espírito que protege todos os direitos’?”.

Tornado um grande empreendedor da construção civil após o pacto com Mefisto, Fausto comanda grandes obras de aterro e terraplenagem, incluindo a construção de obras de infraestrutura em escala territorial como portos, canais e barragens. Seu objetivo é a ampla dominação da natureza através da criação de uma nova paisagem técnica homogênea, mobilizando imensas equipes de trabalhadores e máquinas. O sucesso pragmático dessas obras de planejamento vem acompanhado de um sentimento terrível, retratado nos personagens que acompanham os canteiros de obras e que descrevem aquelas atividades – “cavar e esburacar” o chão incessantemente – evocando “gritos de horror” que fendem a noite, apesar de, ao final, serem sempre saudados pela luz da manhã com o aparecimento de uma nova represa ou canal.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

O primeiro episódio trágico da narrativa acontece quando Fausto lança sua mira furiosa sobre Filemo e Báucia, um casal de velhinhos que permanece, desde longa data, morando em um pequeno chalé nas dunas, onde oferece ajuda e hospitalidade a marinheiros náufragos e sonhadores. Ocupando uma pequena porção de terra em meio àquelas grandes obras, o casal se coloca como obstáculo no caminho expansionista de Fausto, que programa removê-los para construir ali uma torre de observação – do alto da qual ele e os seus possam “contemplar a distância até o infinito”. Contrariado com o fato de o casal de idosos não aceitar uma polpuda quantia em troca do terreno em que mora, Fausto ordena a Mefisto que os retire dali imediatamente, liberando a terra para que as obras possam prosseguir. No entanto, ao saber que Mefisto havia incendiado a casa, matando impiedosamente os velhinhos, Fausto, ultrajado, o chama de monstro e o expulsa dali. Antes de se retirar, o príncipe das trevas responde com uma risada, explicitando o fato de que “Fausto vinha fingindo, não só para os outros, mas para si mesmo, que podia criar um novo mundo com mãos limpas”.

O marco zero da era do pacto fáustico nas cidades, em termos históricos, é a Reforma de Paris conduzida pelo Barão de Haussmann entre 1853 e 1870. Nomeado prefeito de Paris por Luís Bonaparte durante o chamado Segundo Império francês, Haussmann governou a cidade com mãos de ferro, impondo um “urbanismo a golpes de martelo”, demolindo vastas áreas da cidade para reconstruí-las segundo uma nova feição moderna. Conhecido, por isso, como “o artista demolidor”, Georges-Eugène Haussmann foi o responsável pelas grandes obras que transformaram drasticamente a face de Paris, com a construção de um vasto sistema de avenidas largas (os bulevares) que erradicaram o aspecto medieval da cidade, tornando-a a “Cidade Luz”, um novo centro de cultura, lazer e consumo que desembocaria na chamada belle époque do final do século.

A Reforma de Paris, como se pode imaginar, foi extremamente violenta. Combatendo a revolução fracassada de 1848, o urbanismo higienista de Haussmann expulsou as classes populares das áreas centrais, empurrando-as para regiões distantes, e tornou a cidade muito menos suscetível a manifestações populares e guerrilhas de barricadas. Ao mesmo tempo, contudo, preparou Paris para a modernidade, para a escala das massas, e para a euforia da vida metropolitana que vemos em muitas das pinturas impressionistas, com seus bulevares cheios de gente, suas pontes metálicas, gares, trens e fumaças.

O ano de 1848, imediatamente anterior à ascensão de Napoleão III ao poder, foi o marco de uma das primeiras crises econômicas em grande escala – uma crise de capital não reinvestido e de desemprego em massa. Daí a tentativa fracassada de revolução naquele ano, empreendida por trabalhadores desempregados e utopistas, que teve, paradoxalmente, como desdobramento histórico, a ascensão de Luís Bonaparte ao poder através de um golpe de Estado e sua consequente autoproclamação como imperador em 1851. Sua estratégia como governante se baseou, por um lado, na repressão dos movimentos de oposição e, por outro, em um vasto programa de obras de infraestrutura, tais como ferrovias e portos, além da ampla reforma da capital.

Absorvendo enormes quantidades de dinheiro e mão-de-obra, a reconstrução da cidade foi um poderoso veículo de estabilização social e econômica. Com efeito, para realizar tamanha empreitada, a prefeitura precisou do apoio de instituições financeiras e de crédito, criando, assim, um modelo de estabilização em momentos de superprodução através de uma aliança simbiótica entre a indústria imobiliária e o mercado financeiro, tão poderosa até os dias de hoje.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

Violência desapaixonada

Sabemos que a interpretação positiva da destruição, por parte de muitos dos pensadores e artistas modernos do século XIX, encontra o seu limite histórico nas duas grandes guerras mundiais da primeira metade do século XX. Daí, inclusive, que a sua reaparição altissonante e descalibrada em alguns dos movimentos de vanguarda do início do século – tal como no caso mais explícito dos futuristas, apologistas da guerra e da higiene étnica e social através da tecnologia – já se mostre um embuste sinistro, destituído da complexa ambiguidade presente na catarse daquilo que até então se designava como “destruição criativa”. No século XX, sob a égide da guerra técnica e da destruição em massa, a violência se naturaliza nas práticas sociais, se instrumentaliza, perdendo um certo aspecto redentor e revolucionário que antes parecia ter.

Sintomaticamente, em 1923 – seis anos após a Revolução Russa –, Le Corbusier propõe a arquitetura e o urbanismo como remédios para a revolução social: “Arquitetura ou revolução. Podemos evitar a revolução”, afirma. Em uma perspectiva espelhada em Haussmann, Le Corbusier entende a arquitetura como antídoto contra os processos revolucionários instaurados pela modernidade. Um antídoto que, no entanto, assim como na reforma de Paris, se realizaria modernamente através de processos extremamente violentos, fazendo tabula rasa da cidade existente. Não por acaso, a sua Ville Radieuse, de 1935, é dedicada à Autoridade.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o paradigma cultural do ocidente vai deixando de ser a “destruição violenta” da guerra – tal como se pode ver no Cubismo, segundo observação de Argan – e vai se transformando na “destruição lenta” do consumo, tal como aparece na Pop Art. Nesse período, tem início um processo de grande suburbanização das cidades norte-americanas – modelo logo exportado para todo o mundo –, conduzido pela difusão do automóvel, pelo baixo preço do petróleo e pelo subsídio destinado à compra de casas unifamiliares em áreas distantes. Associam-se, assim, a dispersão territorial, o culto à propriedade privada, o endividamento das famílias, a atomização social e o conservadorismo político. Paralelamente a isso, os centros urbanos se esvaziam e passam a apresentar maiores problemas com violência e segregação social. Trata-se, como se vê, de um modelo urbano predatório que, no entanto, se difundiu enormemente pelo globo.

Mais uma vez, aqui, as grandes obras de urbanização apareceram para resolver exemplarmente o problema sistêmico de reinvestimento do capital. Problema que, na primeira metade dos anos 1940, no caso dos Estados Unidos, havia sido aplacado com a ampla mobilização da economia do país para a guerra. E que permaneceu resolvido, no período seguinte, tanto pela manutenção do incremento da indústria armamentista em razão da Guerra Fria, por um lado, quanto pela enorme expansão urbana por meio dos subúrbios, por outro, também articulada a uma ampla política de créditos junto a instituições financeiras.

Bem se sabe que tal associação entre economia financeira e mercado imobiliário é a responsável não apenas pela estabilização da economia em períodos de superprodução, como também pela formação das chamadas “hipotecas podres” e pelo estouro das bolhas mais recentes, que insistem em reaparecer como uma crise sistêmica não resolvida. Daí o papel central que a urbanização e o mercado imobiliário desempenham na economia global, com ainda maior protagonismo à medida que o investimento na indústria bélica – a outra medida importante na absorção da produção excedente – declinou após o fim da Guerra Fria. O que observamos, a partir de então, foi uma espécie de superinflação da construção civil e da especulação imobiliária baseada, em grande medida, em programas de demolição em grande escala – uma escala verdadeiramente fáustica.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

Tudo se passa, segundo a hipótese que proponho aqui, como se o antigo conceito de obsolescência programada das mercadorias, referido aos pequenos bens de uso cotidiano, se transferisse para o próprio território do planeta, fazendo com que os bens perenes sejam tratados como artigos de consumo. Agora, na voragem da hiperurbanização mundial, é a própria Terra que tem a sua taxa de obsolescência imensamente acelerada. E a arquitetura, arte historicamente ligada à firmitasvitruviana, à solidez, se vê diante de uma crise de identidade.

Não é possível supor, portanto, que a violência tenha deixado de desempenhar um papel central em nossa sociedade em tempos recentes. A diferença é que, agora, ela não parece mais investida nem de um poder catártico, tal como na primeira metade do século XX, durante as duas guerras mundiais, nem de uma força construtiva regeneradora, tal como se supôs na ideia de “destruição criativa”, da segunda metade do século XIX. Naturalizada e infiltrada em todas as esferas da vida social de uma maneira muito mais banal e capilar, a violência, entre nós, se tornou desapaixonada. E o predomínio do consumo enquanto valor social hegemônico, tal como percebeu Hannah Arendt já no final dos anos 1950, significa a erosão da durabilidade das coisas, da durabilidade do mundo.

Nesse contexto, em que o par destruição-construção, associado à especulação e ao consumo, assume o comando da regulação econômica do sistema em escala global, é sintomático que eventos globais de massa os mais variados se tornem, progressivamente, em essência, grandes negócios imobiliários. Refiro-me aqui, claramente, a eventos originariamente esportivos, como a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos que, a partir dos anos 1990, começaram a abarcar uma série inteiramente nova de exigências técnicas e funcionais, com seus complexos aparatos logísticos, que redundaram em grandes obras de arquitetura e infraestrutura, acompanhadas de imensos custos e, também, por que não, de imensos lucros. Ora, se a sociedade é cada vez mais tratada como um grande mercado consumidor, a qualidade de vida nas cidades se tornou essencialmente uma mercadoria. Dessa mesma maneira, as cidades também são entendidas cada vez mais, nesse contexto, como cidades-negócio que adotam estratégias competitivas de crescimento urbano, o que faz com que o seu valor de uso – atributo histórico de definição das cidades enquanto tal – vá se tornando algo recessivo diante da hipertrofia do seu valor de troca.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

Um bom negócio

A valorização excessiva do valor de troca das cidades, em detrimento de seu valor de uso, é um fenômeno que tem gerado situações aberrantes nos dias atuais. Uma delas é, por exemplo, a cidade de Ordos Kangbashi, situada na província chinesa da Mongólia Interior, no extremo norte do país. Planejada e construída, a partir do ano de 2001, para uma população de um milhão de habitantes, a cidade ainda conta apenas com cerca de cinco mil pessoas. Aparentemente, no entanto, a geração de emprego, proporcionada pelas obras de construção da cidade, somada ao papel simbólico que ela desempenha em uma região de fronteira (e de conflito), como um polo local de economia criativa, parece bastar, como se observa no discurso do governo e dos investidores para justificar o sucesso do empreedimento. Sintomaticamente, ao ser perguntado sobre o possível mau negócio que teria feito ao investir em imóveis de uma cidade “fantasma”, um investidor pequinês, dono de propriedades em Ordos, respondeu tranquilamente o seguinte: “Foi um bom negócio. Estou investindo em uma cidade que não está sendo gasta”.

A transformação do planeta em um imenso e permanente canteiro de obras ocorre associada a um processo de grande mobilidade e flutuação populacional no mundo, no qual enormes contingentes de pessoas pobres migram ou imigram sem cessar em busca de trabalho, empregando-se de forma cada vez mais precária na construção civil, tanto para obras de construção quanto de demolição.

A China, nesse sentido, é o epicentro de um processo de urbanização que se tornou realmente global, devido à integração dos mercados financeiros mundiais. Consumindo, desde a virada do milênio, praticamente a metade de todo o cimento produzido no mundo, o país que Mao Tsé-Tung manteve muito pouco urbanizado até o final dos anos 1970 tem hoje mais de cem cidades com população acima de um milhão de habitantes. E apresenta espantosos fenômenos de hiperurbanização quase instantânea, tais como os que ocorreram em Chongqing, Guangzhou e Shenzhen, por exemplo. Esta última, aliás, foi construída sobre uma antiga vila de pescadores no delta do rio Pérola, onde se criaram, a partir dos anos 1980, as chamadas Zonas Econômicas Especiais. Após meros 35 anos de existência, Shenzhen abriga hoje 11 milhões de habitantes, um centro financeiro pujante, uma Bolsa de Valores (apenas Xangai também tem uma Bolsa de Valores no país) e um skyline com prédios altíssimos, sediando bancos e proeminentes companhias de tecnologia, hotéis de alto padrão e habitação.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

Cidade-oásis com o maior crescimento mundial do PIB ao longo da década de 2000 (com uma média de 28% a cada ano), Shenzhen é inteiramente composta por uma população de migrantes, com uma média etária abaixo de 30 anos e aproximadamente 70% de população flutuante. Flutuação que, se por um lado, confere um aspecto dinâmico à cidade, é também perversa, gerando porções de cidade oficialmente inexistentes, pois, embora os antigos vilarejos de pescadores tenham sido englobados fisicamente pela cidade em seu processo de expansão, mantiveram legalmente um estatuto ambíguo, conservando-se como mini-enclaves rurais dentro da malha urbana, nos quais vieram a se instalar habitações precárias e muito densas que associaríamos a cortiços ou favelas. Como não consta nos dados oficiais dos moradores de Shenzhen, boa parte dessa população flutuante, que constitui a mão de obra barata que trabalha na cidade, não tem acesso aos serviços públicos. Trata-se, claramente, de uma fórmula cruel de crescimento urbano, que financia a construção de uma cidade com baixíssimos custos.

No interessante livro How the City Moved to Mr. Sun: China’s New Megacities, Michiel Hulshof e Daan Roggeveen descrevem, entre outros casos, as desventuras de Sun Huanzong, um camponês morador dos arredores de Shijiazhuang, no norte do país, que passou por processos seguidos e traumáticos de desapropriação já em sua velhice. Quando a primeira onda de urbanização chegou às suas terras, em meados dos anos 1990, Sun usou a baixa indenização que recebeu para construir um edifício multifuncional na cidade, misturando sua residência a comércio e apartamentos para aluguel, um café com intenet e uma cobertura-jardim com horta, miniaturizando sua antiga fazenda. Como explicam os autores, é o que se chama, na China, “a aldeia na cidade”.

Nessa etapa, os antigos produtores rurais se tornam empreendedores imobiliários, dando origem a uma cidade marcada pela mistura de usos e por extensões informais e orgânicas dos edifícios. Ocorre que, em um segundo momento, que não demora muito a chegar, o planejamento estatal “coletivista” vem derrubando essa cidade vibrante e caótica para erguer grandes empreendimentos estéreis em seu lugar, feitos de imensas torres e shopping centers. No caso de Mr. Sun, como em muitos outros, o comitê da antiga aldeia foi subornado e, em 2009, os camponeses-empreendedores foram obrigados a entregar seus imóveis para a companhia urbanizadora em troca de dois apartamentos nas novas torres. As pessoas que resistiram foram espancadas por bandos de mercenários, como ocorre em muitos outros casos, dando origem a um popular video game na China (Stubborn nail versus gang of thugs) em que o jogador, situado na posição dos moradores atacados, usa armas do exército para exterminar tais gangues.

A extrema atualidade das questões levantadas pela urbanização voraz da China de hoje, com suas contradições violentas, é a matéria-prima de muitos dos filmes do jovem e extraordinário diretor chinês Jia Zhangke. Em Em busca da vida (Still Life, 2006), Zhangke flagra a situação de dramática transformação de Fengjie, um lugarejo milenar no sul do país à beira do rio Yang-Tsé que seria, em seguida, em grande parte alagado pela represa criada com a barragem de Três Gargantas, uma das obras mais fáusticas do nosso tempo. Os dois personagens principais do filme são desterrados, figuras de outras localidades que ali desembarcam em busca de pessoas que não encontram. Enquanto isso, enormes contingentes de homens trabalham em condições penosas – sem instrumentos adequados e sob uma condição de calor e umidade extenuantes – para demolir os edifícios da parte da cidade que será alagada. Eles estão empenhados em apagar a própria cidade. Suas ações são negativas. Todo o esforço é empregado na destruição destituída, aqui, de qualquer caráter “criativo”. E, enquanto o cenário urbano é apocalíptico, a paisagem natural em volta é esplendorosa, edênica. Com grande força poética, o filme trata da incomunicabilidade e da impermanência, mostrando o descompasso brutal entre a extrema mobilidade física das pessoas – migrantes de todas as partes que erram pelo país em busca de trabalho – e sua atávica condição de imobilidade social e psicológica.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

Not to be

Quando olhamos para o vertiginoso fenômeno atual da hiperurbanização chinesa, em que aldeias rurais se tornam cidades com dezenas de milhões de habitantes em muito pouco tempo, enxergamos processos extremamente violentos nos quais a destruição massiva, tanto de construções antigas quanto de vilas rurais ou paisagens naturais, parece completamente destituída de qualquer caráter heroico ou regenerador. A destruição da natureza e das pequenas e antigas construções é um imperativo inteiramente fáustico: vamos começar tudo do zero! E, com isso, o princípio da obsolescência programada parece deslocar-se dramaticamente das mercadorias de uso comum para o próprio território do planeta. Estamos consumindo tudo de maneira cada vez mais incessante e voraz e destruindo o mundo à nossa volta em nome da eterna abundância. “Perecibilidade é saber que vamos morrer”, escreve o artista Cildo Meireles em um pequeno texto aforístico, enquanto a “descartabilidade é suicidarmo-nos por causa disso”. E conclui: “Not to be or not to be, eis a questão”.

United Land. Imagem © François Ronsiaux

Este conteúdo pertence à revista PISEAGRAMA. Veja a matéria original aqui.

Como citar este artigo: WISNIK, Guilherme. Mundo: começar do zero. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 08, página 68 - 77, 2015.

Sobre este autor
Cita: Guilherme Wisnik. "Mundo: começar do zero" 05 Out 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/881043/mundo-comecar-do-zero> ISSN 0719-8906

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