Preservação Infinita: O que o Cinema possui e a Arquitetura não

Casa Malaparte, given new life by Jean-Luc Godard’s film Contempt. Image © Flickr User CC Sean Munson. Used under Creative Commons

Este artigo é uma cortesia de nosso amigo cinéfilo Charlotte Neilson, o autor do fascinante blog Casting Architecture, que discute arquitetura e produção de design.

A vida de um edifício - algumas centenas de ano, com sorte - é apenas um ponto quando comparada aos bilhões de anos necessários para moldar uma paisagem natural. Ainda mais breve é o trabalho de um cineasta: a procura criada para o entretenimento momentâneo, que chega a conclusão em apenas um par de horas.Logo, é estranho perceber que o cinema entre em cena com frequência para imortalizar edifícios que encontraram um fim precoce.

Enquanto Arquitetura e Cinema sempre tiveram um relacionamento desconfortável (seja o retrato que a indústria de filmes passa dos edifícios modernos como frios e sem alma - e normalmente associados com ocupantes "estranhos" ou a estereotipização dos próprios arquitetos como delicados, tipos impraticáveis), a inclusão de um edifício em um filme pode muitas vezes tornar-se parte importante da história da edificação. E às vezes o seu último reduto.

Mais sobre Arquitetura imortalizada no Cinema, a seguir...

Auditório Pan-Pacific, 1956. Cortesia de Wikipedia Commons User Tillman

Quando o Auditório de Los Angeles Pan Pacific, um grande exemplo de linhas modernas, foi incendiado em 1989, sua história gloriosa de 54 anos foi reduzida a um punhado de imagens de arquivo e às memórias de duas gerações de cidadãos de Los Angeles. Estranhamente, também em Xanadu.

Se não fosse por Olivia Newton John, haveria muito pouco registro do edifício e certamente não em um formato tão acessível. Apenas uma pesquisa no Google trará milhares de cópias, digitalmente remasterizadas e prontas para entrega. Isto é realmente incompreensível, considerando que o filme foi mal recebido em seu lançamento em 1980.

Imagens da Ridgetop, por Julius Shulman, escaneada da Modernism Rediscovered. Via Charlotte Nielsen

Há muitos exemplos de edifícios preservados no cinema - o hotel Sands e Casino (demolido em 1996), imortalizado em seu age pelo filme Onze Homens e Um Segredo (Oceans 11) original; o Trinity Square Carpark, famoso pela versão de 1975 de Carter - O Vingador (Get Carter) e ganhou longevidade após sua destruição, em 2010; e da ilustre Richfield Oil Tower, em Zabriskie Point, filmada logo antes de sua demolição.

Imagem da Casa Ridgetop escaneada da Architectural Digest, anos 60. Via Charlotte Nielsen

Não tão conhecido, mas igualmente interessante é o projeto de David Fowler, de 1963, para a família Davis em Beverly Hills. O edifício, chamado Ridgetop, constituiu-se de um plano redondo distinto, com mobiliário personalizado, beirais recortados e blocos de concreto ostentando um motivo elíptico que aparece em toda a casa: nos portões de entrada metálicos, janelas e divisórias. Fotografado por Julius Shulman e destacado em Architectural Digest logo após a construção, a residência refletia a sofisticação dos anos 1960.

Screenshot of the Ridgetop House, featured on The Fast & the Furious. Image © Universal Studios

Perto do fim de sua curta vida, o edifício foi utilizado em dois longas-metragens (graças ao produtor Waldemar Kalinowski) - a versão de Diane Keaton de Hanging Up e o primeiro filme de Velozes e Furiosos (Fast & Furious), lançado em 2001. Em ambas as ocasiões os filmes fizeram uso da estética futurista característica dos anos 60, iluminando suas formas, a piscina e a passarela. Infelizmente a casa foi demolida para dar lugar a um novo conjunto habitacional no início de 2000.

Chemosphere, by John Lautner © Joshua White/JWPictures.com

Enquanto houveram também casos em que a notoriedade de um filme deu um significado adicional para uma estrutura (o filme Desprezo (Contempt) de Jean-Luc Godard, deu à notável, mas em ruínas, relíquia da Casa Malaparte em Capri uma vida renovada e estabeleceu o seu lugar na história da arquitetura, bem como na cultura popular), os exemplos são raros. Mas é um ponto interessante a se considerar. Será que John Lautner (que tem o duvidoso título de ser o arquiteto mais referenciado pelo cinema) teria recebido o mesmo reconhecimento se Hollywood não tivesse se interessado por seu trabalho? É bem possível que suas estruturas experimentais teriam desaparecido no esquecimento se não tivessem se tornado uma parte integrante do vocabulário construído de Hollywood.

Enquanto muitos filmes foram perdidos por negligência, parece que essa busca fugaz e intangível ocasionalmente tem provado ser mais duradoura que tijolos e argamassa. A vontade da comunidade arquitetônica de colocar fé e energia no próximo projeto, muitas vezes significa que as realizações recentes são ignoradas - até que um golpe de moda traga um reflorescimento. Muitas vezes isso vem tarde demais. A perda do Ridgetop é um lembrete de que os edifícios não são permanentes, se ninguém cuida deles. Talvez este é o lugar onde o Cinema ultrapassa a Arquitetura - os fãs mantêm o trabalho vivo. Enquanto as pessoas se interessarem, os filmes serão remasterizados e edições especiais serão lançadas. É uma pena que edifícios não possam ser ressucitados tão facilmente.

Sobre este autor
Cita: Charlotte Neilson. "Preservação Infinita: O que o Cinema possui e a Arquitetura não" [Final Preservation: What Cinema Has That Architecture Doesn't] 17 Fev 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Britto, Fernanda) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-97930/preservacao-infinita-o-que-o-cinema-possui-e-a-arquitetura-nao> ISSN 0719-8906

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