Ribadeo Acessível / abalo alonso arquitectos

Conexão e acessibilidade entre o centro histórico e a orla

Ribadeo se encontra na esquina noroeste da Galícia, fronteira com Astúrias, na foz de mesmo nome. Tem uns nove mil habitantes, vocação terciária, centro histórico protegido, porto e muitas possibilidades devido a sua posição estratégica na borda cantábrica. O entorno da praia das Catedrales, situada no município, é o segundo ponto mais visitado da Galícia, depois da Catedral de Santiago. Lugar de veraneio habitual não só da província como também de outras partes da Espanha.

Temos então dois aspectos bem claros; por um lado uma população consolidada e com futuro e um turismo vigoroso, tanto habitual como pontual. E por outro lado, uma vila inclinando-se entre dois polos, o porto tanto esportivo como comercial e o centro histórico.

© Santos Diez

Entretanto, a relação entre o porto e o centro histórico apresenta uma cilada difícil de escapar: mais de vinte metros de desnível entre ambos, que se aproximam dos quarenta se considerarmos a Praça da Câmara municipal. Resulta numa situação difícil no que diz respeito a articular um entorno em que os dois principais focos de atração se encontram em planos paralelos. Passeios que não se cruzam; dois mundos em um. Para as pessoas no centro histórico é incomodo descer, mas tão pouco os turistas que atracam no porto resolvem subir. O qual nos leva a uma ignorância mútua ou a um abuso do carro para nos mover quando em outras condições, poderia ser absolutamente prescindível. Os centros históricos são muito mais atrativos e cômodos sem eles, da mesma forma que os portos esportivos.

O porto tem um desenvolvimento linear bordeando a foz. O porto comercial no interior, esportivo na continuação e o antigo setor de cargas ao fundo, eclipsado pela ponte de los Santos que cruza a foz a uns quarenta metros de altura para conectar Astúrias e Galícia. Instalações portuárias e agradáveis restaurantes pontuam um calçadão marítimo de criação recente.

O centro histórico se articula em torno a uma grande praça presidida pela Prefeitura  e a Torre De los Moreno, edificação modernista de grande porte mas atualmente em desuso. Ambas as construções buscam o sol, mas desse modo dão as costas para o Cantábrico e se situam perpendiculares a foz. Não visualizam o mar, parece como se o ignorassem. Pode ser em parte por isso, mas fundamentalmente pelo fato de que não se vai aos comércios pelo sul. Essa falta de dinamismo tem levado também ao abandono de certas edificações de interesse, como o antigo cinema ou paços urbanos de envergadura, atualmente em desuso ou em meio a ruínas. A comunicação com o porto se produz por outras zonas de menor interesse, mas também complicadas, pois estas foram se marginalizando. O crescimento de novas edificações no sudoeste piora tanto a situação atual para qualquer possível solução.

© Santos Diez

Parece, pois, anunciado o problema. Como conectar ambos os mundos; como converter o desnível que se se aprecia nas fotografias em rota de conexão. A prefeitura lança a pergunta através de um concurso de ideias, nunca melhor empregado o termo. Não há um pressuposto fechado, nem um programa de necessidades claramente definido; nem sequer uma localização concreta. Simplesmente existe um problema a ser resolvido.

CONEXÃO E ACESSIBILIDADE

Se da como certo que a distância mais curta entre dois pontos é a linha reta, mas pode não ser sempre a melhor solução. Os acessos habituais bordeando la Atalaya são bonitos, mas longos. Se poderia intervir neles melhorando os pavimentos, a iluminação, restringindo o tráfego, mas ao final de qualquer modo seguiriam sendo longos e com declives acentuados. Nos tempos de hoje não conseguiríamos evitar o uso do carro. Podem funcionar bem como descidas, mas em algum momento temos que subir. Os vizinhos tem isso claro.

O visitante de fora chega de carro ou de ônibus, as vezes de barco. É interessante que visite tanto o porto como o centro histórico, mas tem que estacionar. O problema do tráfego no centro histórico é o habitual neste tipo de entorno, mas na zona portuária se dão outras condições: há mais espaço e com melhores acessos. Os estacionamentos para passear já funcionam com êxito nestas situações. Se propõe um estacionamento cômodo e se restringe o tráfego no centro histórico.

© Santos Diez

Descartada a intervenção nas ruas existentes se tenta a possibilidade de novas conexões ou meios de transporte mecânicos. A Atalaya se converte em ponto chave. O desnível é importante mas o deslocamento horizontal é praticamente nulo. Estudamos três opções: escadarias convencionais, mecânicas ou elevador. Oito níveis de escadas não são subidos por ninguém hoje em dia; nem sequer descer. Mas de cem passos. A disposição do terreno complica o apoio ou rebaixo de escadas mecânicas. No entanto, parece suficientemente vertical para um elevador.

O local da base, praticamente plano. O desembarque superior apresenta alguma pequena complicação no mirante de Atalaya, mas depois a inclinação é muito suave até a Praça da Prefeitura e um trajeto curto. Cria-se uma grande área de oportunidade entre a praça e o mirante; aquela que descrevíamos como marginal. A Rua da Trindade e, sobretudo suas partes baixas, podem adquirir outro interesse provocado pelo trânsito de pessoas. Os três ou quatro paços urbanos de interesse, o antigo cinema e o tribunal se veem agora com outros olhos.

IMAGEM URBANA

A proposta tem um claro componente escultórico. Como a capela de Atalaya ou a Torre de los Moreno, nasce com vocação de referencia urbana. Uma aposta arriscada, mas decidida. Fica muito evidente que uma vez eleita esta opção não podemos passar despercebidos; mas não por ânsia de notoriedade; mas sim porque realmente é muito difícil ocultar um “edifício” de outo andares, o mais alto de Ribadeo. Isso não significa obviamente não permanecer atentos ao entorno, amáveis no encontro com o existente, respeitosos, integrados na paisagem.

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O elevador se converte em objetivo em si mesmo. O perfil a partir do outro lado da foz incorpora um novo referencial, visível assim mesmo desde a ponte de los Santos e, em maior escala, desde o próprio porto. Incluído na parte superior se mimetizará entre ruelas, uma vez alcançando o mirante de Atalaya. Aproveitamos a singularidade do elemento para instalar também um pequeno ponto de informações e turismo. Descartam-se outras opções como bares ou similares pelas condições técnicas exigidas. Não parece adequado e, em todo caso, há espaços melhores nos arredores.

A ladeira onde se localiza tem orientação norte, pela qual se encontra praticamente na sombra todo o dia. As plataformas de acesso, tanto inferior como superior estão claras. Boa visibilidade tanto para ver como para ser visto. Todos os caminhos nos conduzem ao clássico elevador panorâmico. Mas nossa abordagem em ligeiros matizes. Por um lado evitamos qualquer tipo de fachada de vidro para fugir tanto de reflexos como desta imagem “dura” das cortinas de vidro e por outro lado construímos uma camada envolvente que dá corpo ao elevador, volume, mas também profundidade, visões enviesadas, contrastes. O que se busca não é um caminho direto; não pretendemos ser a linha reta. Talvez servir como uma menção à subida as muralhas dos castelos, ou os campanários das catedrais. Caminhos sugestivos, quase mágicos. Visões pontuais para o exterior. Tudo, menos evidente. Para isso já temos o mirante superior.

O material se integra a ladeira, como um pedaço recuperado da antiga muralha. Concreto escuro com textura de ardósia. Vocação evidente de integração. Por um lado a cor, quase sempre na sombra. Por outro, a textura, habitual na zona. Coberturas brilhantes, de concreto escuro polido, relembrando os telhados de ardósia.

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DETALHE

Um volume prismático com quatro extremidades. Duas abaixo e duas acima. Dois de acesso ou saída, dois de serviço. Orientadas nas quatro direções. O do porto o acesso inferior; perpendicular a muralha o superior. Direto o do escritório de informação; acessível; inacessível o de ventilação da sala de máquinas. O corpo central com duas partes, elevador e escadaria. Esta de manutenção ou de emergência, ou para os esportistas.

Perfurado. Ao menos um vazio por seção na escadaria, em qualquer direção. Para o elevador, e começando desde a parte de cima, abordagem seria a seguinte: visão completa a partir do mirante, para a ponte a medida que vamos entrando. Para a outra costa enquanto esperamos. Para o interior da foz quando começamos a baixar, giramos noventa graus na metade do percurso para chegarmos por último na base. Algum vazio pontual para a ladeira nos confirma. Saímos de cara para o porto. Um trajeto helicoidal. A cabine do elevador de vidro nos permite a visão em todas as direções. A caixa de concreto nos qualifica com cada um dos vazios.

Um prisma de vidro e aço inoxidável escovado se move de cima para baixo. Com uma velocidade mais lenta que o normal, tanto para disfrutar da paisagem como para evitar flashes irritantes dentro da caixa. A noite um referencial urbano. Uma iluminação muito tênue do conjunto e o elevador subindo e descendo.

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Grades nos acessos nos permitem fechar nas noites ou em determinadas épocas. É importante por questões de manutenção, segurança ou mesmo, vandalismo.

CONSTRUÇÃO

Muros portantes de concreto, escuros, incorporados na base e livres no cume, incluindo o voo de nove metros que nos deposita na plataforma superior. Pelo exterior, placas de madeira a cada dez centímetros de altura provocando cavidades entre um e cinco centímetros. No interior, placas lisas, envernizadas posteriormente para buscar estes brilhos similares a pedra úmida das grutas, das catacumbas e dos calabouços dos castelos. Nós estudamos as juntas que coincidiam com os descansos. Deixamos vazias as aberturas dos pinos das placas, criando outra subordem. Modulação a cada cinquenta centímetros, três passos, três metros entre os descansos, a altura da placa escolhida.

Escadas também de concreto, com os degraus recortados. Separados dos muros; a luz escapa pelas alterais, iluminação de emergência embutida através de pequenos “leds”. Corrimão também de concreto, mas com a interface para as mãos de aço inoxidável escovado.

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Opta-se pela maquinaria elétrica ante a dificuldade de embutir o pistão na rocha de fundação e pelo balanço previsto ao se tratar de um elevador externo. A sala de máquinas na parte superior com acesso restringido por uma escada praticável, também de aço inoxidável, como toda a serralheria. As dimensões necessárias, um pouco maiores que as do vazio da cabine, provocam um voo formalmente similar ao resto dos acessos. A porta se tata como uma peça semelhante ao jogo “tétris” que formam o resto dos vazios. Uma escada retrátil nos permite o acesso cumprindo a rígida norma a respeito. A mangueira de manobra se cobre com uma caixa de aço para evitar problemas com o vento. È praticamente o único elemento fechado. Dispõe-se também, fora os elementos de segurança habituais, de uma porta na metade do trajeto, boia no foço e dinamômetro caso a velocidade do vento seja excessiva.

A cabine do elevador, com estrutura de aço inoxidável escovado e fechamento de vidro. Cobrem-se os mecanismos tanto inferiores como superiores para procurar a maior simplicidade do prisma. Simétrica, com vidro em três de seus lados de tal forma que nos permite um maior ângulo de visão possível ao mesmo tempo em que esconde guias, cabos e portas.

O ponto de informações, com características similares as da cabine do elevador. Aço na estrutura e fechamentos, vidro e a inclusão de um pequeno banheiro. As portas do conjunto, grades dobráveis também de aço inoxidável.

© Santos Diez

De fato, o mínimo de materiais possível; concreto, aço inoxidável escovado e vidro. Se unindo ao granito da urbanização.

ACESSOS

Ou saídas, ou relação com o entorno, ou âncoras a ladeira. Estes espaços de transição que nos acompanham até o elevador ou a saída deles. Peças de piso de granito de grande formato com tratamento granulado grosso. Juntas coladas na dimensão curta e abertas na longa, para permitir a passagem de ervas ou luminárias embutidas.

Na zona inferior se eleva o piso para o outro lado do passeio para provocar a diminuição do tráfego, potencializando o tráfego de pedestres. A medida se reforça com restrições prévias de controle. Partes das grandes louças de granito se incrustam no pavimento existente. Não se pretende uma borda clara; sem solução de continuidade passamos de um para o outro.

Implantação

No mirante de Atalaya se modificaram ligeiramente as inclinações perimetrais ao átrio da capela para favorecer a acessibilidade. Refaz-se parte da muralha, carente por outro lado de valor, para conseguir elevar ligeiramente a cota de desembarque e reduzir assim o desnível existente com a zona superior. O desenho do pavimento, similar ao do acesso inferior, mas com junta cheia marcada em sentido longitudinal e fechada no transversal. Na borda do mirante, junta aberta para favorecer o crescimento de ervas. Uns bancos completam a urbanização nesta zona. Manteve-se a arborização existente.

 

 

Ficha técnica:

Equipe:

  1. Autores: abalo alonso arquitectos. Elizabeth Abalo, Gonzalo Alonso.

Informação Complementar:

  1. Colaboradores: Carlos Bóveda, arquiteto. Juan A. Pérez Valcárcel, Dr. Arquiteto. Cálculo de estruturas.
  1. Promotor: Conselho de Ribadeo. Ministério de Meio Ambiente, Meio Rural e Marinho.
  2. Contratante: Dragados. Delegado Vicente Delgado. Chefe de obra, Antón Laxe
  3. Fotografia: Santos-Díez | BISimages

Sobre este escritório
Cita: Leonardo Márquez. "Ribadeo Acessível / abalo alonso arquitectos" 24 Mai 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-50403/ribadeo-acessivel-abalo-alonso-arquitectos> ISSN 0719-8906

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