Fazer ressoar o espaço: incorporando o som em projetos de interesse público

“A arquitetura moderna está projetando para os surdos". O compositor canadense R. Murray Schafer fez uma interessante observação. [1] O tema "som" praticamente não existe no discurso da arquitetura moderna. Por que? Nós, como arquitetos, pensamos em termos de forma e espaço; equilibramos a compreensão científica com a visão artística. O problema é, temos a tendência de pensar muito em objetos, ao invés de processos e sistemas. Essencialmente, nosso campo é, naturalmente, centrado na visão. Então, como começamos a "ver" o som? E mais importante, como usamos isso para promover saúde, segurança e bem-estar? 

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Sound Tube 1971. Image © Atelier Leitner

Mas por que projetar para nossos ouvidos importa? Bem, mesmo se você estiver em uma câmara anecóica, você ainda assim está cercado por sons. Em 1910, um médico chamado Robert Koch, considerado o pai da bacteriologia moderna, disse que: "Um dia as pessoas terão que lutar contra o som tão incessantemente quanto lutaram contra a cólera e a praga." [2] Sua previsão se tornou realidade: estudos mostraram que o som tem um impacto direto no sistema educacional, na saúde, e na produtividade nos espaços de trabalho. Como Julian Treasure coloca em sua esclarecedora palestra no TED, "o som nos afeta fisiologicamente, psicologicamente, cognitivamente e comportamentalmente, a todo o tempo." Por esta razão, o som deve ser considerado nos projetos; é uma constante que pode melhorar ou piorar consideravelmente nossa qualidade de vida.

Entrementes, o tema Projeto de Interesse Público ganhou um impulso significativo nos últimos anos. O orador da convenção do AIA deste ano foi ninguém menos que Cameron Sinclair, cofundador do Architecture for Humanity. Equipes como o MASS Design Group e Sam Mockbee’s Rural Studio têm recebido atenção internacional. Mas observando seus grandes trabalhos, pode-se perguntar, eles consideraram o som? Poderia o som se tornar um aspecto de grande importância nos Projetos de Interesse Público?

The Butaro Hospital by MASS Design Group. Image © Iwan Baan

A fotografia acima, do Butaro Hospital projetado pelo MASS Design Group, mostra um projeto que considerou bastante a ventilação, um aspecto que ajuda a mitigar a transmissão de doenças, salvando vidas diretamente. Contudo, o forro inclinado aumenta ou diminui a inteligibilidade das conversas? Estes efeitos combinados dificultam o trabalho dos funcionários do hospital no tratamento dos pacientes? Com os níveis de ruído nos hospitais duas vezes mais altos que há 40 anos atrás, estas são as questões que estão se tornando cada vez mais importantes - embora frequentemente não abordadas [3]. Talvez tenhamos medo das respostas.

Então, por onde começamos? Como podemos "ver" o som? Louis Roberts, um arquiteto californiano, disse que um dos modos como pensa em um elemento de projeto como a luz, por exemplo, é se perguntando "como a luz natural conduzirá alguém através do espaço?" [4] O que podemos começar a fazer é nos indagar sobre o som natural, e como ele pode "nos conduzir" através do espaço, como disse Robert. O que aconteceria ser nós imaginássemos o som como uma massa contínua, se nós, como arquitetos, projetássemos segundo os padrões através dos quais o som viaja pelo espaço?

The syn chron space por Carsten Nicolai. Cortesia de artcentron.com

Por exemplo, o Sound Lounge da Universidade de Virgina cria pontos de conversa, aumentando a inteligibilidade em determinadas regiões de uma espaço mais amplo. Esta mesma ideia pode ser adaptada a escalas maiores, no contexto de uma cidade, lidando com o problema dos ruídos urbanos. Indo mais além, o LMN Architects está usando modelagem paramétrica e fabricação digital em seu projeto para uma Escola de Música, criando um sistema acústico integrado em que a iluminação, as caixas de som e o sistema contra incêndios fazem parte de uma mesma superfície no forro. Podemos imaginar fachadas, paisagens urbanas e espaços internos da mesma maneira.

Em suma, estes são pequenos passos, mas é chegada a hora dos arquitetos darem estes primeiros passos e começarem realmente a escutar. Projetemos escolas em que os alunos possam ouvir melhor seus professores, hospitais onde pacientes possam repousar tranquilos, e escritórios onde os funcionários possam ouvir seus próprios pensamentos. Mas antes, devemos nos perguntar sobre as questões relacionadas ao projeto do "som", e começar a escutar as respostas.

Referências

[1] Robinson, Sarah. Nesting: Body, Dwelling, Mind. Richmond, CA: William Stout, 2011. Print.

[2] Kleilein, Doris. Tuned City: Zwischen Klang- Und Raumspekulation = Between Sound and Space Speculation. Idstein: Kook, 2008. Print.

[3] Work Group 44. Rep. no. 512. ANSI, 21 May 2009

[4] Roberts, Louis O.Man between Earth and Sky: A Symbolic Awareness of Architecture through a Process of Creativity. Carmel, CA: Octavio Pub., 2009. Print. 

Sobre este autor
Cita: Baldwin, Eric. "Fazer ressoar o espaço: incorporando o som em projetos de interesse público" [Making Space Resonate: Incorporating Sound Into Public-Interest Design] 24 Out 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-148076/fazer-ressoar-o-espaco-incorporando-o-som-em-projetos-de-interesse-publico> ISSN 0719-8906

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