Clássicos da Arquitetura: Ginásio do Clube Atlético Paulistano / Paulo Mendes da Rocha e João De Gennaro

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Uma plataforma habitável semienterrada, cuja cota superior estaria posicionada a meia altura em relação ao transeunte da Rua Colômbia, abriga boa parte do programa solicitado e pode ser entendida como uma continuação do piso urbano, qual praça semi-elevada e aberta, possibilitando franco acesso às arquibancadas do ginásio coberto; desde o clube, a praça é também mirante, terraço que devolve ao uso comum a área livre e aberta anteriormente existente e agora ocupada pelo ginásio, realizando assim o entendimento corbusiano do teto-jardim como instrumento de recuperação urbana do espaço privativamente ocupado da cidade.

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Croquis

No projeto apresentado ao concurso, acima dessa plataforma-praça habitável situa-se, além da cobertura do Ginásio, uma outra, retangular, estreita e mais baixa sob a qual se abrigaria um jardim de infância, com acesso pela praça e voltada para a lateral da rua Honduras. A praça prolongava seu perímetro no lado nordeste numa concordância em 45º voltada para o espaço aberto dos demais equipamentos existentes no clube, providenciando uma arquibancada para as canchas de tênis; outro chanfro no lado sudeste acomodava algumas árvores em continuidade ao edifício-sede existente.

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Cortesia de Relae Design

Essas gentilezas da implantação são abandonadas no projeto definitivo atendendo algumas alterações no programa e em prol de uma maior autonomia[não existe autonomização] do objeto construído: desaparece o jardim de infância e modificam-se alguns dos usos esportivos, resultando numa plataforma retangular quase quadrada de aproximadamente 75 x 60 m. Mas sua característica icônica mais forte - o corte básico - manteve-se quase idêntica, apesar das diferenças importantes nas cotas de nível das duas soluções, pois a altura do lençol freático exigiu do projeto final o levantamento do nível do piso da quadra (correção que já constava como necessária no memorial do concurso). Esse detalhe é importante pois, subindo-se a cota da praça de 1.5 para 2.5 m em relação ao terreno e à rua, a proposta de continuidade com o espaço urbano externo ficou prejudicada.

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© Arquivo P.M. Rocha. Cortesia de Brutalist Connections

Com essas alterações a estrutura da cobertura ganhou relativamente mais destaque no conjunto final, tendo sido ligeiramente ampliada horizontal e verticalmente em relação ao primeiro desenho, mas mantendo sua integridade conceitual inicial. Seis pilares em concreto aparente dispostos regularmente em círculo apoiam uma marquise em anel circular em concreto aparente com mais ou menos 12.50 m de largura e secção transversal trapezoidal, conformada por uma viga em duplo caixão perdido e duas abas simétricas em balanço. Esse anel periférico permite a livre circulação coberta dando acesso a duas arquibancadas opostas, dispostas paralelamente à quadra esportiva; a concordância entre estas e o círculo externo permite seu acesso no nível da praça apenas em dois trechos, enquanto o restante do perímetro serve de mirante elevado por sobre o espaço do ginásio. 

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© Arquivo P.M. Rocha. Cortesia de Brutalist Connections

O vazio central interno a esse anel-marquise tem cerca de 35 m de diâmetro e foi protegido por uma cobertura circular quase plana, estruturada por treliças metálicas radiais, conformando um conjunto que se apóia no anel de concreto e tem sua porção central atirantada por meio de cabos metálicos ancorados nos pilares periféricos. Ao serem percebidos desde o espaço interno do ginásio os pilares em concreto assumem um desenho em perfil V muito aberto que relembra sugestões niemeyrianas; mesmo que não fosse essa a intenção original, que possivelmente priorizava as colunas em si mesmas, sua interceptação pela marquise torna sua integridade não perceptível in loco, mas apenas abstratamente, em corte. 

Cortes

A peculiar forma das colunas, muito pouco espessas, de limitado ponto de apoio e abrindo-se para o alto com inusitados recortes e prolongamentos enfatiza uma qualidade quase bidimensional cuja forma plástica se justifica plenamente: não por ser mero diagrama de forças estáticas, mas por enfatizar didaticamente as tensões estruturais enquanto dá continuidade às linhas de força compositivas que buscam uma maior horizontalidade do conjunto. A quase impossibilidade de visualização da cobertura metálica desde o exterior (exceto em voo de pássaro) provoca a percepção paradoxal do anel-marquise externo de concreto como se fora o único responsável pela cobertura - que com isso, além de ganhar maior importância e peso visual, parece quase flutuar, já que sua massa “virtual” (inferida, mas inexistente) está apenas ligeiramente apoiada.

* Extrato da tese de doutorado de Ruth Verde Zein "A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista 1953-1973", capítulo 7.3.4, PROPAR, 2005.

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© Arquivo P.M. Rocha. Cortesia de Brutalist Connections

O Ginásio do Clube Atlético Paulistano recebeu o primeiro lugar, “Grande Prêmio Presidente da República”, na premiação da VI Bienal de Arte e Arquitetura, em 1961.

São Paulo, Brasil

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Localização do Projeto

Endereço:Rua Honduras, 1400 - Jardim América, São Paulo, 01428-001, Brasil

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Sobre este escritório

Material

Cita: Igor Fracalossi. "Clássicos da Arquitetura: Ginásio do Clube Atlético Paulistano / Paulo Mendes da Rocha e João De Gennaro" 09 Set 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-139826/classicos-da-arquitetura-ginasio-do-clube-atletico-paulistano-slash-paulo-mendes-da-rocha-e-joao-de-gennaro> ISSN 0719-8906

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