O Shopping Center. Novo Espaço Urbano?

Texto por Beatriz Mella via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.

Há alguns dias foi divulgado na imprensa o resultado de um ranking latino americano que afirma que o Chile é o país com maior quantidade de metros quadrados de shopping Center para cada 100 habitantes, o que em termos práticos significa que a cada 100 pessoas, há 15 m² de centros comerciais.

Hoje em dia estes espaços amplamente criticados por suas tipologias construtivas, relações com seus entornos, espaços de socialização e origem baseada no consumo, se converteram nos espaços mais procurados das cidades, sendo eleitos, em alguns casos, como novos espaços de urbanidade e de encontro.

O que significa este número para a cidade?

1) O shopping center se tornou um grande espaço urbano

O shopping center tem origem na ideia da rua como corredor comercial, o que significa que tem em sua origem a necessidade de se adequarem às diferentes demandas dos transeuntes, incorporando aquilo que o usuário procura: é um espaço (de uso) público, que permite o comércio. A isto se acrescentam outras funções que são próprias dos espaços públicos como o desenvolvimento da socialização nos espaços de encontro, contemplação e descanso. Por outro lado, a boa conectividade e localização de suas instalações, a eterna primavera em seu interior, a sensação de segurança, a variedade de produtos e os novos programas têm superado em muitos casos a funcionalidade das ruas ou dos centros comerciais urbanos.

O shopping center dos subúrbios norte americanos era primeiramente um lugar que buscava capturar e convergir o aumento dos fluxos que se realizavam através do automóvel. Neste sentido, os shoppings se encarregaram destas novas tendências de urbanização dispersa, já que o uso do automóvel durante o pós-guerra significou uma nova forma de abarcar o território construído das cidades.

Bulevares, grandes avenidas, comércio de luxo e espaços para os automóveis foram algumas das características que definiram o êxito das primeiras tipologias de shoppings centers norte americanas. No entanto, este primeiro modelo está muito longe daquilo que hoje se conhece como o conceito de shopping center, já que, apesar de serem construídos segundo a lógica da incorporação do automóvel, seu desenho os situa também dentro de uma lógica dos pedestres. Por outro lado, as novas tecnologias de climatização dos espaços, mecanização das circulações e uma nova lógica funcional proporcionaram uma nova maneira de conceber os espaços de consumo. Perceber os espaços de maneira artificial é parte deste novo modelo, já que não importa se faz frio ou calor, os visitantes permanecem em seu interior a uma temperatura estável e confortável.

Os centros comerciais das cidades chilenas estão em débito quanto à segurança, as condições das instalações e acessibilidade se quiserem concorrer com as tipologias do shopping center, que respondem de maneira funcional às necessidades de seus usuários.

2) A localização de alguns shoppings centers pode influenciar o desenvolvimento urbano

Embora o shopping center seja em suas origens uma tipologia voltada para as periferias e subúrbios, nas cidades chilenas ele se localiza em regiões centrais. Em Santiago, por exemplo, se localizam em torno de grandes concentrações de escritórios ou serviços do setor terciário, garantindo um fluxo constante.

O aparecimento da figura do shopping center no Chile – sem considerar as tipologias comerciais anteriores ao shopping como os caracóis ou o Apumanque – , acontece no ano de 1982 coma inauguração do Parque Arauco, localizado na periferia mais movimentada da cidade. Seu desenho era basicamente uma adequação do modelo norte americano que contava com duas lojas maiores e uma série de lojas de menor porte. Hoje, o processo de evolução dos shoppings centers de Santiago – considerando os emblemáticos casos do Parque Arauco e o Plaza Vespucio – mostra que se pode relacionar o conceito de renovação urbana com o desenvolvimento destes espaços comerciais.

O shopping Plaza Vespucio, por exemplo, localizado no Paradero 14 de Vicuña Mackenna, foi incorporado pelo fluxo de pessoas e pelo comércio circundante, difundindo-se os limites entre o espaço público e o espaço privado. Os espaços de uso público que se encontram no interior dos limites privados se converteram em espaços de encontro em diferentes esferas sociais: estudantes, funcionários de escritórios, comerciantes, entre outros. Isto ocorre por razões culturais, morfológicas e funcionais que coincidem primeiramente – no início dos anos 2000 – com a chegada do metrô da linha cinco aos arredores do shopping, mediante um processo de abertura morfológica do espaço de uso público através da construção de Las Terrazas, um espaço que funciona como um bulevar. A vinculação do shopping center à um importante conector de fluxos, como é o caso do metrô, possibilitou, neste caso, a potencialização do entorno urbano que cresceu ao redor dos serviços oferecidos pelo shopping.

3) Existe uma obsolescência funcional dos antigos sistemas de comércio tradicionais

Substituídos por novos padrões de consumo, as formas tradicionais de comércio em Santiago, como as galerias caracóis e ruas comerciais, não têm tido gestões suficientemente ágeis para suprir as novas demandas dos cidadãos. O shopping center foi se adaptando às transformações que a cidade demandava e o comércio tradicional não conseguiu alcançá-lo.

As últimas pesquisas sobre segurança têm gerado um questionamento em torno da utilização do espaço público e seu papel dentro da sociedade. Neste sentido, a opinião em torno do conceito de vigilância tem variado, escapando às ideias de controle e repressão. Hoje em dia, parece que as pessoas estão mais dispostas a ceder parte de seus âmbitos privados para se sentirem mais seguras. O shopping center, através de códigos nem tão sutis, nem tão explícitos, parece transmitir um sentimento de segurança aos seus usuários. Câmeras de segurança, vigias e controle nas entradas são dispositivos que se refletem na sensação de segurança transmitida por estes lugares e que são ausentes nos comércios tradicionais das nossas cidades.

Novos tipos de atividades foram incorporados aos shoppings centers como um fator de diferenciação em relação ao comércio varejistas. Os shoppings não abrangem apenas espaços comerciais, mas é cada vez mais comum ver clínicas médicas, escritórios públicos, salas de exposições e até mesmo centros educacionais e igrejas dentro destes espaços, característica que garante um fluxo constante de pessoas ao longo do dia.

O fato de preferirmos, como sociedade, frequentar os shoppings centers quando procuramos lugares de consumo tem a ver, possivelmente, com a falta de outros espaços nas cidades que permitam o desenvolvimento destas atividades. Para mudar esta situação serão necessárias algumas adaptações nos comércios tradicionais, como a criação de associações efetivas de comércio varejista; possibilidades de gestão dos espaços; garantias de segurança e controle social; novos usos e programas; e o cuidado e manutenção dos espaços públicos.

Embora a notícia dos 15 metros quadrados de shopping center para cada 100 pessoas tenha causado, possivelmente, um questionamento a cerca da propagação desta tipologia, é necessário nos perguntarmos, enquanto sociedade, de que maneira as formas tradicionais de comércio, que criaram a identidade de muitas de nossas cidades, podem competir atualmente com a figura do shopping center, e de que modo podemos preservá-las.

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Sobre este autor
Cita: Victor Delaqua. "O Shopping Center. Novo Espaço Urbano?" 14 Abr 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-108511/o-shopping-center-novo-espaco-urbano> ISSN 0719-8906

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