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Arquitetos: Cerejeira Fontes Architects
- Área: 38 m²
- Ano: 2011
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Fotografias:Nelson Garrido
Descrição enviada pela equipe de projeto. A estratégia de intervenção passa pela inserção duma Capela no Seminário de Santiago.
Trata-se de um volume solto dentro da antecâmara do Seminário que se assume pela sua centralidade. O desenho projectual desse «corpo» pretende que esta seja uma estrutura singular, equilibrada e visível, tornando-se numa peça presente e de excepção dentro do edifício.
Após o delinear da visão do espaço sagrado que envolve este corpo, procurou-se uma proposta que absorva o carácter religioso do conjunto, criando ambientes e espaços que promovam um espírito de interioridade, reflexão e de recolhimento mantendo assim a mesma linguagem.
O desenho do novo volume articula-se à pré-existência, criando momentos de abertura e novas formas de percepção do espaço envolvente. Este corpo semi-compacto distingue-se do existente pela sua fisionomia mas completa-se em simbologia.
O espaço que envolve o novo volume assume-se como um momento de transição. É intenção da proposta de projecto despertar a curiosidade de quem lá deambula, convidando-a a caminhar em sua direcção.
Ao longo da análise da área de intervenção encontramos dados que codificam o espaço, tais como: o ritmo e a materialidade. Estes dados foram importantes para o desenvolvimento conceptual da Capela.
Ao caminhar ao longo do Seminário somos confrontados com um rigor «quieto» imposto pela posição ritmada das portas de acesso aos quartos. Foi intenção da proposta, quebrar essa rigidez desenhando uma porta de acesso à Capela num dos seus cantos, coincidindo com o centro da antecâmara. Assim, num gesto subtil desenhamos um elemento com características únicas. Esta concepção não é de modo algum, fruto do acaso, nem fruto de condicionalismos puramente formais e de carácter unicamente estético, mas sim, uma consequência da própria realidade conferindo uma outra dimensão à própria concepção do espaço provocando uma especial atenção e de grande riqueza simbólica.
A organização interior da Capela foi concebida tendo em conta dois níveis de apreciação e dois tipos de visão. Estes momentos distintos mas intrinsecamente relacionados, referem-se ao espaço de celebração da palavra e ao espaço de celebração eucarística. Esses dois momentos são apresentados pela assimetria entre o ambão e o altar.
No seu interior reserva-se ainda uma área para o sacrário, que surge como um elemento surpresa, conferindo um momento de mistério aquando da sua aproximação. Este espaço, de oração individual pode ser visível do espaço de oração comunitária e vice-versa, pela imposição de lâminas nas paredes que o envolve. Esta relação constante entre o interior e o exterior transmite sensações de permeabilidade e “expande” visualmente o espaço conferindo ao mesmo tempo alguma privacidade visível do lado exterior.
A estrutura da Capela é concebida de forma artesanal, desenvolvendo-se em contornos quase escultóricos revestida por lâminas de madeira que criam momentos de abertura, permitindo filtrar a força da luz do interior para o exterior e vice-versa concedendo uma maior dignidade aos elementos estruturais resultado de um trabalho manual. Os bancos surgem a partir da escavação das paredes, como que de uma gruta se tratasse. Surge assim o culminar de uma composição que se desenrola horizontalmente, com momentos de ruptura, onde livremente se desenha através de um único gesto, um corpo. É como que um abraçar, um encerrar entre braços algo que nos é precioso – a Capela.