Filme "Era o Hotel Cambridge" mescla ficção e realidade ao mostrar ocupação em antigo edifício em São Paulo

Após ser exibido em dezenas de festivais, Era o Hotel Cambridge, da diretora Eliane Caffé estreou em circuito comercial no dia 16 de março. O filme narra a trajetória de refugiados recém-chegados ao Brasil que, juntos com trabalhadores sem-teto, ocupam um velho edifício abandonado no centro de São Paulo. Em meio à tensão diária da ameaça do despejo, revelam-se dramas, situações cômicas e diferentes visões de mundo. 

A direção de arte do filme foi feita em parceria com alunos da Escola da Cidade, uma experiência pedagógica e artística que explorou as fronteiras entre arquitetura e cinema e entre arte e educação.

A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set criativo da filmagem. Esse coletivo foi composto por quatro frentes principais: núcleo de estudantes de arquitetura da Escola da Cidade, equipe de produção do filme, lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia) e grupo dos refugiados. Por meio de oficinas dentro da ocupação surgiu a matéria-prima para o aprimoramento do roteiro e da direção de arte. A ousadia do experimento garantiu autenticidade e força dramática ao filme.

Interior do Hotel Cambridge ocupado. Image Cortesia de Escola da Cidade

A experiência originou um livro produzido pelas Edições Sesc São Paulo 'Era o hotel Cambridge: arquitetura, cinema e educação', da arquiteta, diretora de arte e professora da Escola da Cidade, Carla Caffé – escrito em HQ e com entrevistas e ensaios –, que retrata o processo de criação da direção de arte, do figurino e da cenografia do filme com a participação dos estudantes da Escola, estendendo o processo pedagógico para fora dos muros da escola.

Interior do Hotel Cambridge ocupado. Image Cortesia de Escola da Cidade

Cinema com Arquitetura

Interior do Hotel Cambridge ocupado. Image Cortesia de Escola da Cidade

A parceria entre arquitetura e cinema nesse filme aparece não somente no roteiro como também no trato com o set de filmagem, uma postura inédita de fazer o cinema junto com o fazer da arquitetura. 

Os cenários não foram feitos para serem desfeitos, mas sim para durarem enquanto a ocupação existir. No roteiro, o edifício ocupado respira como um personagem, o filme descortina delicadezas do design vernacular, fruto do improviso, do limite da sobrevivência. 

Interior do Hotel Cambridge ocupado. Image Cortesia de Escola da Cidade

A manutenção do edifício é um dos panos de fundo das relações entre os personagens, os conflitos aparecem entremeados com a necessidade de cuidar do espaço, como é o caso da mina d’água no subsolo do edifício, que ainda brota água diariamente, já que se situa no antigo leito do Rio Saracura, um dos fortes afluentes do vale do Anhangabaú. 

Recentemente, o edifício Cambridge foi declarado pelo poder público como área de interesse social, à espera de um retro-fit para moradia popular. Mas o ponto forte dessa experiência foi fortalecer o engajamento político dos estudantes e fazê-los sentir a importância e a responsabilidade social do arquiteto, trabalhando nas fronteiras, contaminando e provocando situações e pontos de vistas transformadores. 

Interior do Hotel Cambridge ocupado. Image Cortesia de Escola da Cidade

Alguns cenários do filme foram projetados para abraçar não só as demandas do roteiro, como também as necessidades da comunidade do Cambridge. Os estudantes realizaram apresentações abertas para os moradores da ocupação de modo que todos pudessem entender e opinar sobre os projetos a serem realizados. 

“A cenografia, entendida como arquitetura efêmera, foi tratada para equipar os pontos de encontro e interação dos espaços comuns do edifício para incentivar o espírito de coletividade do movimento”, comenta a professora Carla Caffé. 

Interior do Hotel Cambridge ocupado. Image Cortesia de Escola da Cidade

A natureza colaborativa das atividades práticas foi estendida com oficinas do coletivo espanhol Basurama, que desenvolve projetos de arquitetura e ressignificação urbana, aproveitando materiais descartados coletados em eco pontos espalhados pela cidade de São Paulo.

A equipe foi sensibilizada sobre a abundância e o descarte de materiais reaproveitáveis, como caixas de frutas, pallets, móveis abandonados, e pneus, transformando-os em estantes, poltronas, mesas de trabalho e objetos que serão usados tanto como elementos de cena para o filme, quanto para a própria ocupação.

FICHA TÉCNICA - Era o Hotel Cambridge

  • Direção: Eliane Caffé
  • Produzido por: Rui Pires, André Montenegro, Edgard Tenembaum e Amiel Tenenbaum
  • Diretora de arte: Carla Caffé e estudantes da Escola da Cidade
  • Direção de fotografia e câmera: Bruno Risas
  • Montagem: Márcio Hashimoto
  • Elenco: José Dumont, Carmen Silva, Isam Ahamad Issa e Guylain Mukendi 
  • Atriz Convidada: Suely Franco
  • Participação Especial: Lucia Pulido e Ibtessam Umran
  • Gênero: Drama
  • Produção: Aurora Filmes
  • Coprodução: Tu Vas Voir (França), Nephilim Producciones (Espanha) e Apoio (Brasil)
  • Distribuição: Vitrine Filmes

Cortesia de Escola da Cidade

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Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Filme "Era o Hotel Cambridge" mescla ficção e realidade ao mostrar ocupação em antigo edifício em São Paulo" 26 Mar 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/867676/filme-era-o-hotel-cambridge-mescla-ficcao-e-realidade-ao-mostrar-ocupacao-em-antigo-edificio-em-sao-paulo> ISSN 0719-8906

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