Comentários da crítica: o Prêmio Pritzker 2017

Cortesia de Prêmio Pritzker. Imagem © Hisao Suzuki

O Prêmio Pritzker 2017 foi uma surpresa para muitos, concedido aos três fundadores do RCR Arquitectes, um modesto escritório espanhol localizado na pequena cidade de Olot, na Catalunha. Muitas pessoas e críticos compartilharam seu espanto com o fato de o prêmio ter sido entregue a três indivíduos pela primeira vez desde que o Prêmio Pritzker foi criado em 1979, incluindo a terceira vencedora mulher, e o relativo anonimato do RCR Arquitectes.

Se esta surpresa foi agradável ou chocante, isso varia de crítico à crítico, mas ainda assim parece haver um consenso na decisão do júri de se aventurar ainda mais em questões políticas e se distanciar de seu interesse tradicional em arquitetos celebridades. Como está claramente afirmado na citação do júri: "Nos dias de hoje, há uma questão importante que as pessoas ao redor do mundo estão se perguntando, e não se trata de arquitetura; mas de leis, políticas e governos também." Estariam eles guiando a premiação na direção certa ou errada?

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Cortesia de Prêmio Pritzker. Imagem © Hisao Suzuki

“Um comentário oblíquo sobre políticas globais” – Margaret Rhodes, Wired

Rhodes se aventura nos esforços políticos do Júri do Pritzker desde o início, com um artigo intitulado "Mesmo os prêmios de arquitetura são políticos neste mundo maluco," claramente questionando o papel que um prêmio de arquitetura deveria ter na esfera política do mundo:

Historicamente, o Prêmio Pritzker, fundado em 1979 e patrocinado pela Fundação Hyatt, se afasta de questões difíceis e se volta à celebridades... Não é função do Pritzker fazer política de identidade fora da premiação. Mas agora é difícil não fazê-lo.

Apensar da agenda política óbvia do júri, Rhodes define como "uma fácil mensagem de abertura," que pode muito bem ser a escolha mais segura em nossa sociedade contemporânea onde o criticismo que divide e destrói parece estar em acensão, para nosso desânimo. Este deve ser o motivo pelo qual Rhodes identifica o Prêmio Pritzker 2017 como uma situação onde:

O júri aterrissou em uma declaração política extremamente segura, que se encaixa no cisma entre ideologias protecionistas e inclusivas... É uma declaração muito mais leve do que escolher, digamos, uma mulher como Jeanne Gang ou um escritório iraniano como Admun Studio.

Cortesia de Prêmio Pritzker. Imagem © Hisao Suzuki

“Uma escolha surpreendente que também parece uma resposta perspicaz à globalização e ao clima político contemporâneo ” – Christopher Hawthorne, LA Times

Igualmente crítica, mas que talvez não concorde com Rhodes no uso de termos como 'oblíquo' e 'simpático' é Hawthorne. Um dos poucos grandes críticos a focar quase inteiramente na questão dos países que se voltam para si mesmos e se afastam do mundo destacados pela citação do júri, ele compara a declaração com apoiadores do Brexit e Trump e define paralelos ao "nacionalismo punitivo e xenofobia absoluta," em contraste com "um interesse em proteger o patrimônio local e cultural":

[O final da citação] parece uma referência clara à reação política contra a globalização, elites políticas e cosmopolitismo que deram origem ao voto de Brexit no Reino Unido e a vitória de Trump em Novembro. A linguagem da citação sugere que o medo implícito nesses votos não é apenas justificado, mas pode ser dirigido e até temperado por uma abordagem diferente da produção cultural, começando com a arquitetura.

Hawthorne também aborda o passo dado pelo júri se afastando do processo comum de reconhecimento de um nome já bastante conhecido - esta vez fora do do contexto da situação atual das políticas ocidentais, mas ao invés disso, à história do Prêmio em si. Destaca o potencial da premiação em moldar a estrutura da disciplina arquitetônica, para melhor ou para pior:

Uma ironia surpreendente do recém descoberto interesse do júri em assumir uma posição contra os efeitos prejudiciais da globalização é que o prêmio muitas vezes tem celebrado o trabalho de arquitetos famosos com caros projetos caros em vários continentes... Agora o pêndulo tem balançado de volta em outra direção. O júri do Pritzker está à procura de uma arquitetura - tanto para incentivar um novo conjunto de prioridades na profissão e, aparentemente, para enviar uma mensagem claramente política - que escava fundo no solo nativo.

Cortesia de RCR Arquitectes

“RIP, starchitecture. E boa libertação.” – Diana Budds, FastCo. Design

Budds, assim como Hawthorne e Rhodes, mergulha instantaneamente nas prioridades aparentemente redirecionadas do júri deste ano, mas com um forte tom de celebração. Ela define a decisão como "emblemática da dinâmica evolutiva da profissão, e da prioridade dos guardiões da arquitetura," claramente defendendo o movimento esperançoso da disciplina na direção certa:

É exatamente o oposto das bombásticas assinaturas artísticas e das máquinas de marketing da "starchitecture" que caracterizam muitos edifícios de alto perfil da última década. Nuance, colaboração e especifidade estão se tornando mais importantes que a luz de um gênio singular ou a criação de uma imagem icônica.

Budds parece estar buscando mais responsabilidade e integridade dentro do mundo arquitetônico, aliviado para ser finalmente apresentado com arquitetos que podem conduzir um caminho para discutirmos, criticarmos e seguir:

Tomados lado a lado com seus similares recém laureados com o Pritzker, RCR ilustra o caminho a seguir para uma indústria que está batalhando por identidade e comunicação. Pense localmente, trabalhe para aqueles que não são normalmente privilegiados à uma Arquitetura com a maiúsculo, e projete com sensibilidade. 

© Eugeni Pons

“A arquitetura que têm criada coletivamente a partir da fundação de seu escritório em 1988 é uma das arquitetura mais etéreas, requintadas e sim, bonitas dos tempos modernos.” – Edwin Heathcote, Financial Times (UK)

Dedicando tempo para criticar RCR Arquitectes, ao invés de apenas celebrar suas conotações políticas, Heathcote louva a coleção de suas obras por se destacar entre uma profissão repleta de pessoas cujo principal objetivo é tornar-se a próxima Zaha Hadid:

Os três arquitetos tem sido reconhecidos por um corpo de trabalho que é quase o oposto diametral das extravagâncias de um 'starchitect', que o Pritzker costumava premiar. Sua obra é bastante local, não é exibida e exala o respeito pelo lugar, história, material e as pessoas. Respondem pelo nome um tanto indiferente de RCR Arquitectes e têm, até agora, evitado o circuito global de comissões de alto perfil.

Também prevendo como a inesperada premiação pode influenciar o escritório de arquitetura (até então) relativamente desconhecido, Heathcote parece confiante em seu bom caráter. Seu julgamento tem respaldo do próprio comentário de Ramon Vilalta em uma entrevista exclusiva com o ArchDaily, onde disse que "O que esse prêmio pode nos dar? Eu gostaria de fazer menos projetos, porém com mais intensidade." Como Heathcote destaca:

A tentação de vencer o Pritzker deve ser se tornar global, mas alguns dos vencedores recentes como Wang Shu na China e Eduardo Souto de Moura em Portugal, também conseguiram manter uma identidade regional distinta. Dado seu sentido de lugar altamente irraigado, talvez Aranda, Pigem e Vilalta não estarão tão distraídos e podem continuar a desenvolver uma obra que fez a Catalunha um lugar onde a arquitetura é utilizada para estreitar os laços sociais e fazer pequenas cidades atuarem como lugares de encontro, variedade e vida pública rica.

Cortesia de Prêmio Pritzker. Imagem © Hisao Suzuki

“Assim é como a arquitetura é realmente praticada, portanto, obrigada.” – Alexandra Lange, Curbed

Lange ressalta o fato que o prêmio deste ano vê apenas a terceira mulher vencedora em 38 anos de história do Prêmio Pritzker, representada neste trio por Carme Pigem. Lange, como Heathcote, reflete no efeito do prêmio na carreira de um arquiteto:

Premiações deveriam ser entregues para fazer a diferença na carreira das pessoas, não para ajudar os ricos ficarem mais ricos. Não parece que RCR Architectes quer ou precisa de ajuda, essa é na verdade uma afirmação positiva de alguns valores arquitetônicos antiquados.

De acordo com vários outros críticos, Lange comenta na escolha incomum feita pelo júri, em relação à lista dos vencedores anteriores, mas também destaca o desinteresse do júri em 'coroar' uma figura já mundialmente famosa, especialmente quando um escritório como RCR Architectes tem se mantido fora do radar por tanto tempo:

Em um ano quando a resposta reflexiva à quem deveria ser laureado parecia ser David Adjaye ou Bjarke Ingels, os arquitetos que geram mais repercussão e mídia na maioria dos continentes, escolher um escritório melhor conhecido dentro da profissão indica um desejo dos premiadores em surpreender ao invés de coroar.

No entanto, Lange também reflete no estado dinâmico de nosso mundo moderno, onde opiniões e tendências mudam todos os dias. Nem mesmo o Prêmio Pritzker está isento disto:

Meus olhos foram imediatamente atraídos ao seu El Petit Comte Kindergarten, com seu perfil quase japonês, com pátio central e colunas coloridas. Raramente o desejo de dizer 'crianças brinquem aqui' com tantas cores pareceu tão elegante. Seria isso suficiente? Este ano, quando esta operação foi repetida em uma carreira de mais de uma década, o Pritzker diz sim. Quem sabe qual a mensagem que o júri vai passar em 2018?

Cortesia de Prêmio Pritzker. Imagem © Hisao Suzuki

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Sobre este autor
Cita: Zilliacus, Ariana. "Comentários da crítica: o Prêmio Pritzker 2017" [Critical Round-Up: The 2017 Pritzker Prize] 16 Mar 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/806841/comentarios-da-critica-o-premio-pritzker-2017> ISSN 0719-8906

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