JUNTOS: Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016

Como parte da cobertura do ArchDaily Brasil na Bienal de Veneza deste ano, compartilhamos a seguir informações sobre o Pavilhão do Brasil, que reúne quinze projetos e iniciativas de diferentes regiões do país e que tem curadoria de Washington Fajardo.

A Casa da Flor é uma arquitetura onírica erguida a partir do sonho de Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985). Filho de um escravo negro com uma índia, este trabalhador das salinas próximas a São Pedro da Aldeia (140 km do Rio de Janeiro) construiu sua casa a partir da coleta de restos e resíduos, os quais ganharam um novo sentido de uso nas paredes da pequena edificação unifamiliar.

O mesmo princípio moveu a arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) na Casa Valéria Cirell, em São Paulo. Primeira expressiva realização da arquiteta manifestando o que defendia ser o nacional-popular, em oposição ao modernismo hegemônico dos circuitos de debate e da produção arquitetônica na época. Bo Bardi vai se interessar pelo homem simples e popular, identificando signos da cultura negra e sentidos lentamente burilados por fricção e amálgama, por desejo de converter-se em outra coisa: no brasileiro.

A condição marginal das duas construções contém valores que precisam ser “penetrados” para compreensão mais central dos rumos a serem tomados pelo ambiente construído brasileiro. As casas de Gabriel e Lina dançam ENCRUZILHADAS. Semelhantes e distintas, moles e imprecisas, contudo amorosas e generosas na oferta de caminhos para uma felicidade possível, fulgurando dentro da percepção de crise e confusão da atual situação nacional.

Tais ECOS são observados nas últimas três décadas no Brasil, o período da redemocratização: enquanto a prioridade foi dada às agendas econômicas e sociais, a agenda territorial e do planejamento urbano foi incipiente. Identidade negra, centralidades urbanas históricas, acesso à cultura através da arquitetura e de conteúdos de design são os relatos deste pavilhão brasileiro: a busca pelo entendimento do que seria estarmos JUNTOS.

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ECOS

Aparentemente território exótico da arquitetura internacional, o Brasil oferece amplo espectro humano e cultural, onde as forças daquilo que era entendido como utopia americana podem ainda oferecer redenções e respostas.

País negro, mestiço, tropical, hedonista, vanguardista, alegre, leve e intenso mantém pulsante em seus rincões mais profundos os valores de vida, a liberdade e a busca da felicidade que tanto associamos à América do Norte. Ao Sul poderia haver uma outra resposta ao atual mundo da pós-industrialização e do pré-apocalipse climático.

JUNTOS / curadoria de Washington Fajardo. Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016. Image © Laurian Ghinitoiu

Ora empresa colonial que sonha com metrópoles fulgurantes, ora simulacro de ocidente surrealista, ora amálgama amoroso de forja católica, vagueia-se no Brasil em outro espaço-tempo, onde sobre si dobram-se a escravidão latente, a ousadia estética, a invenção de vida, a memória calorosa e o design que carnalmente busca a junção entre os diferentes.

A aparente complexidade e ineficiência do nosso ambiente construído podem conter também respostas mais elaboradas e generosas aos desafios que a humanidade estabelece desde sempre: viver junto, lembrar, amar, progredir e superar.

Estaríamos verdadeiramente alienados do mundo? Ou, nas diversas realidades urbanas brasileiras, haveria histórias de forças capazes de reestruturar territórios, cuja arquitetura não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual novas realidades são vislumbradas?

JUNTOS / curadoria de Washington Fajardo. Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016. Image © Laurian Ghinitoiu

Não seria imperioso, mas sim jornada prazerosa, fazer mais com o que se tem. Imprecisão e incompletude seriam formas abertas à cooperação. Essas constantes falências também criam ciclos de fazer e de refazimento.

Como seriam tais ecos dessas mensagens hoje? Onde reverberaram?

Desde o fim da ditadura, na década de 80, o Brasil faz esforço pela democracia e seus feitos são singulares: reformas, estabilidade econômica, fortalecimento das instituições públicas, consolidação do Estado de Direito, acesso à educação, ao trabalho, à saúde, distribuição de renda, inclusão, cidadania. A perfeição não existe em nenhuma luta social, mas os feitos para um país de proporções continentais com mais de 200 milhões de habitantes são muitos.

As agendas econômicas e sociais foram prioritárias nos últimos 30 anos. Por sua vez, a agenda territorial e do planejamento urbano ainda é incipiente e anacrônica.

JUNTOS / curadoria de Washington Fajardo. Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016. Image © Laurian Ghinitoiu

As emergências nacionais ainda induzem os governos a desprezarem processos de planejamento, de projeto, de design. Flexibiliza-se o ambiente de contratação de obras públicas em favorecimento a grupos financeiros-construtores, e diminui-se o papel fundamental da gestão do tempo da produção no ambiente construído por arquitetos e urbanistas. Brasília e seu lema de realizar “50 anos em 5” ainda são capital político no país e têm ressonância pela esfera política.

A modernidade brasileira descontextualizou as centralidades históricas e culturais na direção de escalas metropolitanas estéreis, massacrando os registros da sua ocupação original e sua capacidade de restituição de vigor.

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Os centros urbanos eram vivos e pulsantes em manifestações culturais e políticas, e em sonhos de revitalização, mas hoje são tecidos esgarçados, ociosos, com as populações negras em êxodo para áreas informais e periferias, sujeitas à violência e segregação. Esta é a atual condição urbana brasileira. Algumas iniciativas incitaram um positivo movimento contrário como, por exemplo, o Corredor Cultural do Rio de Janeiro que, nas palavras de Augusto Ivan, um importante artífice do projeto, “tinha como premissas básicas: preservar os conjuntos arquitetônicos remanescentes; proteger os entornos dos monumentos históricos existentes; envolver no processo principalmente a população; salvaguardar o patrimônio imaterial que conferia ambiência especial a estas áreas; valorizar o multiculturalismo brasileiro.”

Os centros históricos ofereceram guarida ao homem popular e aos povos negros escravizados trazidos à força ao país. Contiveram o melting pot católico-candomblé-amoroso-libidinoso-antropofágico do Brasil. Foram os palcos da conquista da democracia. São os palcos das festas populares, dos carnavais. Entretanto, também são hoje esvaziados, precários, de baixa ocupação residencial, sujeitos a pressões grosseiras do mercado, e em eterna luta por vitalidade como consequência dos rastros funcionalistas e racionalistas que organizaram o território urbano dos anos 40 aos 60. Modernidade branca.

JUNTOS / curadoria de Washington Fajardo. Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016. Image © Laurian Ghinitoiu

Sendo o primeiro país de maioria negra a sediar as Olimpíadas, o Brasil – nação afrodescendente – tem na graça de sua cultura a fagulha da sua preciosidade, sua unicidade, sua plena e real força americana. Na contribuição da população afro-brasileira é que exercemos a busca da felicidade. Pela mensagem da cultura negra somos impelidos a ficar juntos, ao amor, ao gozo, a dança, a uma inteligência humana superior, em conjugação de rara beleza.

Assim constitui-se a identidade, a cultura do ambiente construído brasileiro, o ambiente cultural forjado em três centralidades sobrepostas: os centros urbanos, a identidade negra, a ação cultural.

JUNTOS

População negra, centralidades históricas, acesso à cultura através da arquitetura e de conteúdos de design são os relatos deste pavilhão brasileiro: a busca pelo entendimento do que seria estarmos juntos.

Juntos no desamparo do ambiente construído e dos processos que deveriam fomentar o bom desenho das cidades – o espaço público, o edifico público, o planejamento urbano. Juntos como sociedade civil pelo esforço de construir a esfera pública e que lentamente conquista a arquitetura.

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A sofreguidão, a imprecisão, o inacabado das soluções são pontos de abertura à cooperação e ao desejo de tornar-se coisa outra e rara – brasileira.

A proposta desta exposição é contar e recontar histórias de pessoas que lutam e conquistam mudanças em meio à passividade institucional das grandes cidades brasileiras. Conquista-se a arquitetura em processos lentos, cujo vagar não é problema mas um apontamento de solução ao esfacelamento político do planejamento do território.

Este pavilhão é composto dessas trajetórias e parcerias, do processo do encontro do ativista com o arquiteto e com a arquitetura, imanados pela elaboração do novo espaço.

JUNTOS / curadoria de Washington Fajardo. Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016. Image © Laurian Ghinitoiu

Os lugares onde viveram, estudaram, trabalharam, constituíram família. Ou seja, a celebração da vida dessas pessoas em vídeos, fotos, cartas, artigos, poesias, dados, fatos, desenhos, diagramas. Assim compondo uma dispersão no tempo e no espaço desses esforços heroicos: um memorial dessas vidas imbricadas na melhoria do ambiente construído, nas suas comunidades, no resgate de um modo de ser e saber.

Arquitetura é cultura.

Esta não é uma mostra apenas de projetos, mas de processos e seus estados da arte, ora concluídos, ora por fazer, ora inacabados. Tais processos falam de arquitetura, urbanismo, patrimônio cultural, publicações, ativismo e tecnologia social.

JUNTOS / curadoria de Washington Fajardo. Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016. Image © Laurian Ghinitoiu

O imperioso em exibi-los é por serem contra-argumentação ao silêncio das políticas territoriais no Brasil, onde houve avanços, mas tanto falta fazer sobre o chão que vivemos e sobre o ambiente construído como lugar da inclusão e da vida.

Veja a segui os projetos que fazem parte do Pavilhão do Brasil na 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza.

BR Pavilion

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Vila Flores / Goma Oficina

Vila Flores / Goma Oficina. Image © Lauro Rocha, Fernando Banzi

Um processo arquitetônico: ressignificação, coletividade e aprendizado

O Projeto Vila Flores vem acontecendo ao longo de 6 anos e por muitas mãos, devendo ser descrito com uma lógica que o inscreve no tempo e guia seu partido arquitetônico, pela perspectiva da VIDA que hoje nele pulsa.

Datado de 1928, localizado na antiga região industrial na várzea do Rio Guaíba, Porto Alegre, o conjunto de edificações não apenas permitiu como inspirou o Vila Flores. A semente de um espaço compartilhado, adequado ao desenvolvimento de atividades colaborativas, já estava no projeto original de Joseph Lutzenberger, pela

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Ocupar, trabalhar, viver e conviver são as bases para o processo de readequação do conjunto arquitetônico, que está listado como interesse cultural para o patrimônio da cidade. O projeto vem sendo desenhado de maneira  processual e colaborativa, desde 2011, quando o conjunto arquitetônico foi aberto para a comunidade com a intenção de tornar-se um centro de cultura, educação e economia criativa. de ouvidos abertos para a construção de uma ideia coletiva diversificação dos tamanhos das unidades destinadas uso misto e pela concepção dos espaços de uso comum.

Parque + Instituto Sitiê / +D Studio

As intervenções espaciais no Sitiê são caracterizadas pela aplicação de uma arquitetura híbrida. Trabalhamos nosso design de acordo com as capacidades e recursos do contexto para ter o maior impacto possível e empoderar a apropriação pela comunidade das soluções e tecnologias aplicadas e desenvolvidas.

Desenvolvemos desde projetos de baixa densidade tecnológica construtiva mas de alto impacto como a Ágora Digital, feita com 386 pneus, entulho e concreto totalizando 23 toneladas de material reciclado, até projetos como a praça e escada do Sitiê, desenhada pelo +D em processo de design participativo e em parceria com a Arup, que sintetiza várias das tecnologias mais modernas de construção. 

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O que une essas intervenções são os princípios fundamentais da primazia do programa espacial e sua funcionalidade, a busca incessante por excelência estética e a multifuncionalidade de ambos os espaços.

A Ágora Digital serve ao mesmo tempo como muralha de contenção, sistema de drenagem do vinco mais critico na topografia do parque e espaço público enquanto a praça e a escada, funcionam como espaço público vertical com conexões espaciais aos negócios locais e áreas lúdicas como seu deck, contenção da encosta entre o Sitiê e o grid principal da comunidade e como sistema de coleta [99% de sua superfície], tratamento e distribuição de água para o parque e a comunidade. 

Com a Ágora Digital, publicada como caso de inovação no urbanismo e democracia no livro Responsive City, dos professores de Harvard, Susan Crawford e Stephen Goldsmith, e a praça e escada, premiada com o SEED Design Awards 2015, nós aprendemos que só focar e trabalhar nas escalas da arquitetura e do urbanismo não é suficiente para resolver os problemas de nosso tempo.

Mais do que nunca por função e filosofia temos de reunir todas as escalas no design e mover a prática arquitetônica para o conceito de arquitetura de territórios. 

Os desafios da Integração Urbana, Desigualdade e Mudança Climática nos forçam a praticar a arquitetura/design tanto como disciplina e processo capaz de integrar as outras disciplinas num projeto comum para responder aos nossos maiores problemas que são todos interdisciplinares. 

Nosso foco, Sitiê, +D e Arup, na síntese de função social, excelência estética e inovação tecnológica capaz de responder ao representativo contexto do Sitiê e do Vidigal, também é dedicado a integração dos espaços físico e digital. A área matriz do Sitiê por exemplo tem um raio de 500m de internet livre para os usuários do parque e comunidade e nosso plano é expandir essa rede, pela praça e escada e por todas as trilhas que estamos desenvolvendo num maciço dos Dois Irmãos. 

De forma mais aplicada ao design, desenvolvemos modelagens espaciais e simulações/modelagens matemáticas sobre o espaço urbano e suas interações [água, saúde, etc] em parceria com o Stevens Institute of Technology, e com a Autodesk Foundation.  Iniciativas como essa e as parcerias institucionais com o +D e a Arup refletem o fato de que o Sitiê é tanto um parque e instituto como um laboratório de inovação urbana entre a comunidade e expertise global. 

Escola Novo Mangue / O Norte – Oficina de Criação

Escola Novo Mangue / O Norte – Oficina de Criação. Image © Francisco Rocha

Na década de 90, a ONG Centro de Cidadania Umbu-Ganzá atuava na comunidade do Coque e captou, juntamente com o UNICEF, recursos da Rede de TV e Rádio de Luxemburgo para construção de um equipamento público a ser definido pela coletividade. Os moradores optaram por uma escola de ensino fundamental, tendo em vista a carência deste tipo de equipamento no bairro. No Coque a taxa de analfabetos funcionais para a população adulta é de 81% e para jovens entre 18 e 24 anos é de 74% (IBGE 2000). Coube à Prefeitura da Cidade do Recife adoação de um terreno de 1.700,00 m2, localizado às margens do braço morto do Rio Capibaribe, para a construção da escola.

A ONG promoveu um concurso para escolha do projeto a ser construído, com uma comissão julgadora formada por representantes da comunidade e da Secretaria de Educação do Recife.

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Entendendo os anseios dos envolvidos no processo, três premissas básicas nortearam a concepção da proposta vencedora da escola e foram vitais para na decisão da escolha pela comunidade: dar ao Rio Capibaribe um protagonismo no novo cenário a ser construído; desenvolver um equipamento de qualidade com alta performance ambiental dentro das grandes restrições orçamentárias impostas pelo concurso; e criar um produto arquitetônico resistente ao vandalismo, tendo em vista a difícil realidade social do Coque e seus altos índices de criminalidade.

A decisão de abrir o edifício ao Rio Capibaribe determinou o espírito do empreendimento: um local de formação educacional preocupado com o meio-ambiente onde todas as salas de aula se abrem para um rio poluído, e que passaria a ser observado, cuidado e transformado. A implantação em “L” gerou um pátio de preciosa qualidade espacial tanto como transição entre o rio e o edifício tanto como lugar de respiro e contemplação do mangue. A espacialidade proposta reafirmou a importância do rio e facilitou o trabalho educativo e curricular da escola para revigorar a vegetação ribeirinha e transformar a paisagem do entorno do edifício. Esta iniciativa não só alterou completamente a paisagem ao longo dos anos, como também fez mudar o próprio nome da escola que passou a se chamar Novo Mangue.

Após a implantação da escola toda a área foi revitalizada pelos alunos com o reflorestamento do manguezal.

Casa Vila Matilde / Terra e Tuma Arquitetos

Casa Vila Matilde / Terra e Tuma Arquitetos. Image © Pedro Kok

Em 2011, um rapaz nos sondou sobre a possibilidade de projetar uma casa para sua mãe, pessoa de poucas posses, que morava em uma casa com sérios problemas de estrutura e salubridade.

Dona Dalva há décadas mora na Vila Matilde. Próximos vivem primos, tios, irmãos e amigos. A primeira opção era vender a casa, valor que somado a uma vida de economias daria para comprar um pequeno apartamento, mais afastado e, provavelmente, sem elevador, situação complicada para seus setenta e poucos anos.

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Em pouco tempo aclarou-se o óbvio, resistir ao deslocamento, ao isolamento. Não mudar. Levantada a bandeira, cabia a nós e a uma rede de colaboradores mantê-la de pé. Sabíamos que uma vez iniciado o movimento, não haveria volta, tinha que dar certo até o fim. Tanto os projetos quanto a obra deveriam se adequar aos restritos recursos financeiros da família.

No início de 2014 a casa dava nítidos sinais de afecção e começou a ruir. Dona Dalva foi morar de aluguel na casa de um parente próximo. A casa nova precisava ser construída o mais rápido possível, caso contrário o aluguel consumiria os seus recursos por completo.

Utilizamos nossas recentes experiências com estrutura e blocos aparentes, para viabilizar uma obra de baixo custo, com maior controle e agilidade.

O maior desafio foi a fase inicial da obra. Foram quatro meses demolindo cuidadosamente a casa antiga, ao mesmo tempo em que se executavam as fundações e arrimos que escoravam as casas vizinhas, apoiadas em seus muros de divisa. Seis meses depois de se iniciar a execução das alvenarias a casa pôde ser concluída.

A casa está implantada em um lote com 4,8 metros de largura por 25m de profundidade. O programa dispõe uma casa térrea, com sala, lavabo, cozinha, área de serviço e suíte no térreo a fim de atender a demanda da moradora. Uma articulação entre lavabo, cozinha, área de serviço e um jardim interno conectam a sala, localizada na parte frontal, e os quartos localizados na parte posterior.

Na área central da casa, o pátio cumpre a função essencial de iluminar e a ventilar. Esta área, serve também como extensões da cozinha e da área de serviço.

No pavimento superior uma suíte foi projetada para receber visitas, totalizando uma área de 95m². A área sobre a laje da sala foi apropriada como horta, e poderá ser coberta, ampliando o programa da casa a fim de atender a futuras demandas. Uma solução simples, resultado de um processo longo, complexo e gratificante.

Placas de Rua da Maré / Laura Taves, Azulejaria e ONG Redes de Desenvolvimento da Maré 

Placas de Rua da Maré. Image Cortesia de Laura Taves

A Maré é um bairro. Conhecida como Favela da Maré ou Complexo da Maré, é um entre os 160 bairros do Município do Rio de Janeiro, o 9º mais populoso. Possui cerca de 139.000 habitantes, 43.000 domicílios e 16 comunidades. Sua população é maior do que a de 80% dos municípios do Brasil. Está localizada, entre as principais vias de acesso da cidade do Rio de Janeiro, à margem da Baía de Guanabara, em uma área de 0,8 km2. Para cada 01 habitante de Veneza existem 270 habitantes da Maré. É impossível não vê-la.

A Maré é resistência. Reconhecida pela força de sua militância, reúne uma série de organizações públicas e não-governamentais, dentre elas a Associação Redes de Desenvolvimento da Maré que trabalha para melhoria da qualidade de vida e garantia de direitos da população da região.

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A Maré é rica. Dentre seus habitantes, aproximadamente 35.000 são crianças entre 5 e 15 anos. Muitas destas participam das oficinas de arte oferecidas pela Azulejaria, que visa fortalecer as potências individuais de seus participantes e se faz presente em painéis artísticos de azulejos no espaço urbano, dialogando com a cidade e expandindo suas fronteiras.

As Ruas. Em 2012 foi lançado o Guia de Ruas da Maré. Gerado a partir da cartografia do bairro, um trabalho de mais de 10 anos. Era a primeira vez que todas as ruas, becos e travessas da Maré foram incluídas no mapa oficinal cidade. Além da definição de todos os nomes, o próximo passo seria a oficialização das mais de 700 ruas pela municipalidade.

As Placas. A produção piloto das placas de rua foi uma ação mobilizadora, convidando a população a um exercício de reconhecimento de seu bairro e sua identidade. Na Maré, a escolha do material cerâmico é simbólica, pois é reconhecido pela população local num espaço onde o apelo visual é muito disputado. Além de um projeto urbano construído coletivamente, é também um ato plástico e político.

A Maré à vista. Em 2013, a Placa de Rua da Maré passou a fazer parte do acervo do Museu de Arte do Rio. Em 2014 foi atualizado o guia de ruas, com todas os logradouros nomeados. Em 2015, a municipalidade oficializou rua por rua, e em abril de 2016 foram publicados os decretos oficializando-as, como se cada rua ganhasse, finalmente, a sua certidão de nascimento. Visibilidade e reconhecimento são os primeiros passos para que se exerça a cidadania e o direito à cidade.

A MARÉ É.

Ciclo Rotas do Centro / Clarisse Linke, Zé Lobo e Pedro Rivera

Ciclo Rotas do Centro. Image © Stefano Aguiar

O projeto Ciclo Rotas Centro, desenvolvido em parceria pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), Transporte Ativo e Studio – X Rio, teve início em 2012 e contou com a participação de representantes da sociedade civil, urbanistas, arquitetos e interessados em geral.

 Foram promovidos encontros para analisar os projetos de infraestrutura cicloviária existentes para o Centro da Cidade do Rio de Janeiro e a realização de um estudo para propor um novo planejamento baseado na experiência de quem realmente usa a bicicleta como meio de transporte.

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 Uma série de workshops, pesquisas de campo e contagens do fluxo de bicicletas foram realizadas, em cinco locais-chave sem estrutura cicloviária, para elaboração do planejamento das regiões do Centro, Lapa, Saúde e Gamboa.

O projeto Ciclo Rotas Centro faz integração com a infraestrutura já existente no Aterro do Flamengo e aponta soluções para as futuras conexões com a Grande Tijuca, os bairros da Glória, Catete e também com os 17 km de ciclovias que ainda serão construídas na região do Porto Maravilha.

 O primeiro workshop, realizado em 2012 no Studio-X Rio, foi o ponto de partida para a elaboração do projeto. Durante o encontro, foram analisados documentos e mapas com os planos para a cidade e, através de dinâmicas de grupo com a utilização de painéis participativos, sugestões e propostas formaram a base para elaboração das pesquisas de campo.

Em 2013, com patrocínio do Banco Itaú, a exposição Ciclo Rotas foi exibida no Studio-X Rio e apresentou os resultados da pesquisa coletiva que mapeou as novas rotas da região. O estudo ofereceu uma proposta de malha cicloviária para o centro da cidade através de painéis com o contexto local e global do uso das bicicletas, sintetizado num mapa/cartaz todo o conteúdo da pesquisa.  

Em setembro de 2013, no Dia Mundial sem Carro, o ITDP Brasil, o Studio-X Rio e a Transporte Ativo promoveram o Park(ing) Day com uma versão condensada da exposição Ciclo Rotas Centro.

No início de 2014, a ciclofaixa da Av. Graça Aranha foi inaugurada conectando o Centro à Zona Sul da cidade através da estrutura cicloviária já existente no Aterro do Flamengo. Vagas de estacionamento foram reposicionadas e 90 bicicletários públicos foram instalados na região. 

Em 2015, o ITDP Brasil, o Studio-X Rio e a Transporte Ativo realizaram uma atividade colaborativa com objetivo de promover a ampliação do programa Ciclo Rotas a outras áreas da cidade, por meio do desenvolvimento de um novo aplicativo mobile. Sob a orientação do designer de experiências Daniel Perlin, os participantes foram divididos em quatro grupos e convidados a refletir sobre as necessidades básicas de quem pretende se deslocar de bicicleta pela cidade e como coletar informações que auxiliem na expansão da rede cicloviária do Rio.

Conjunto Habitacional do Jardim Edite / MMBB Arquitetos + H+F Arquitetos

Conjunto Habitacional do Jardim Edite / MMBB Arquitetos + H+F Arquitetos. Image © Nelson Kon

O conjunto Habitacional do Jardim Edite foi projetado para ocupar o lugar da favela de mesmo nome que se situava nesse que é um dos pontos mais significativos para o recente crescimento do setor financeiro e de serviços de São Paulo: o cruzamento das avenidas Engenheiro Luís Carlos Berrini e Jornalista Roberto Marinho, junto à ponte estaiada, novo cartão postal da cidade.

Para garantir a integração do conjunto de habitação social à sua rica vizinhança, o projeto articulou a verticalização do programa de moradia a um embasamento constituído por três equipamentos públicos – Restaurante Escola, Unidade Básica de Saúde e Creche – orientados tanto para a comunidade moradora como para o público das grandes empresas próximas, inserindo o conjunto na economia e no cotidiano da região.

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O pavimento de cobertura desses equipamentos, como um térreo elevado do condomínio residencial, interliga todos os edifícios habitacionais em cada quadra, conferindo à convivência dos moradores uma adequada reserva em meio à escala metropolitana da área circundante.

O projeto possui uma área total construída de 25.500 m², com 252 Unidades Habitacionais de 50 m². O Restaurante Escola tem 850 m², a Unidade Básica de Saúde, 1300 m², e a Creche, 1400 m².

Piseagrama / Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado

Piseagrama, Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado (editores); Felipe Carnevalli e Vitor Lagoeiro (editores assistentes); Paula Lobato (estagiária), Belo Horizonte. Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

PISEAGRAMA é uma revista sobre espaços públicos: existentes, urgentes e imaginários.Editada por Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado, Felipe Carnevalli e Vitor Lagoeiro (assistentes), a revista articula e promove relações entre as artes, a política e a vida cotidiana, publicando boas histórias, ensaios críticos, jornalismo literário e práticas urbanas, sempre com foco na noção de público.Além da publicação, PISEAGRAMA realiza e promove uma série de ações em torno de questões de interesse público como debates, micro-experimentos urbanísticos, oficinas, campanha com propostas para as cidades, loja itinerante e publicação de livros.

Parque de Madureira / Ruy Rezende, Rio de Janeiro - Mauro Bonelli e Tia Surica

© Bianca Rezende

O projeto visa criar um equipamento público sustentável, baseado em um Programa de Educação Socioambiental.  Há mais de 20 anos, estudos apontam a demanda de áreas verdes públicas para a Zona Norte da Cidade do Rio do Janeiro. Numa região com 97% de ocupação antrópica e menos de 1m2 de área verde por habitante, o novo parque alterou este cenário urbano de maneira tal a transformar a vida dos seus habitantes.

O Parque Madureira Rio+20 foi inaugurado em Junho de 2012 tornando-se o terceiro maior parque público da cidade, com 109.000m2. E as obras de sua expansão avançam a cada dia. O Parque Madureira Rio+20 foi inaugurado em Junho de 2012 tornando-se o terceiro maior parque público da cidade, com 109.000m2. E as obras de sua expansão avançam a cada dia.

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Com milhares de visitas (20-25.000) durante os fins de semana o parque tornou-se o coração verde da região, seu espaço abriga quadras polivalentes, de futebol, playgrounds, academia da terceira idade, academias ao ar livre, ciclovia e estações de bicicleta, área para prática de bocha e tênis de mesa. Destaque para a Praça do Samba, um dos maiores palcos a céu aberto da cidade, o Centro de Educação Ambiental, criado com o objetivo de disseminar conceitos de sustentabilidade, a Praia de Madureira e o Skate Park, considerado um dos mais completos da América Latina.

Sistema de irrigação controlado por sensores meteorológicos, edificações com paredes e tetos verdes, recuperação da fauna e flora da região, com mais de mais de 800 árvores e 400 palmeiras plantadas, energia solar, controle de resíduos sólidos, sistema de reuso de água, pisos permeáveis e utilização de lâmpadas LED, garantiram ao Parque Madureira a conquista do primeiro certificado de qualidade ambiental AQUA atribuído a um espaço público brasileiro.

A expansão do parque, atualmente em andamento, segue seu curso através de mais 6 bairros. Nascido em Madureira, o parque ganhará mais 255.000m² construídos com os mesmos conceitos e princípios originais, para não ser somente um espaço público verde, mas uma mudança na qualidade de vida das pessoas.

Selo de Qualidade MCMV / Nanda Eskes e Letícia Monte

Selo de Qualidade MCMV, Nanda Eskes (Atelier 77), Parauapebas, Pará (Projeto Piloto). Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

Casa do Jongo / Pedro Évora e Pedro Rivera 

Casa do Jongo, Pedro Évora e Pedro Rivera (Rua Arquitetos), Rio de Janeiro. Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

Circuito da Herança Africana / Sara Zewde, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade

Circuito da Herança Africana, Sara Zewde, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Rio de Janeiro. Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

Circo Crescer e Viver / Rodrigo Azevedo (AAA_Azevedo Agência de Arquitetura) e Maxime Baron

Circo Crescer e Viver, Rodrigo Azevedo (AAA_Azevedo Agência de Arquitetura) e Maxime Baron, Rio de Janeiro. Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

Escola Vidigal / Brenda Bello e Basil Walter (BWArchitects)

Escola Vidigal, Brenda Bello e Basil Walter (BWArchitects), Rio de Janeiro. Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

Programa Vivenda / Fernando Amiky Assad, Igiano Lima de Souza, Marcelo Zarzuela Coelho

Programa Vivenda, Fernando Amiky Assad, Igiano Lima de Souza, Marcelo Zarzuela Coelho, São Paulo. Image Cortesia de Fundação Bienal de São Paulo

As descrições de cada projeto foram escritas pelos próprios autores dos projetos.

Sobre este autor
Cita: Washington Fajardo. "JUNTOS: Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2016" 31 Mai 2016. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/788562/juntos-pavilhao-do-brasil-na-bienal-de-veneza-2016> ISSN 0719-8906

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