Três lições da arquitetura finlandesa

Há algumas semanas tive a oportunidade de visitar a Finlândia graças ao convite recebido pelo ArchDaily do Museu de Arquitetura Finlandesa  para conhecer as novas obras de arquitetura projetadas e construídas nos últimos anos por jovens arquitetos.

Gostaria de compartilhar com nossos leitores e leitoras alguns dos aspectos dessa experiência, lições de arquitetura que podemos aplicar a nosso métier enquanto arquitetos da latino-americanos.

Capela Kamppi - K2S. Imagem © Fernanda Castro

1. Embora a arquitetura finlandesa se relacione estreitamente com a paisagem, a natureza e o clima, o que mais me impressionou foi a especial atenção aos detalhes e ao modo como o desenho de um espaço pode convertê-lo em algo elegante. Nesse sentido, a madeira é o material fundamental por sua  simplicidade, aspecto sustentável e possibilidades construtivas. 

Comentei com o grupo com o qual caminhava sobre como em meu país, o Chile, ainda existe certa apreensão quanto à possibilidade de construir com madeira, destacando seu uso sobretudo em casas de praia ou campo. Ainda existem certos preconceitos em relação ao uso desse material na cidade, seja por receio de incêndios ou por parecer um material "de baixa resistência". 

Casa Riihi – OOPEAA. Imagem © Fernanda Castro

Na Finlândia, segundo me disseram, também havia esse preconceito, sendo os arquitetos mais jovens que começaram a resgatar o uso desse material tanto dentro como fora da cidade. Recentemente foi aprovada a construção de projetos habitacionais em altura feitos de madeira e tivemos a oportunidade de visitar uma obra em construção de 8 pavimentos formados por blocos de madeira. 

Para conceber um edifício de tais características, cada espaço é extremamente calculado em função da legislação e normas de segurança. Existem sistemas contra incêndio em cada uma das unidades e é dada especial atenção à ventilação natural nos interiores das residências. 

Bloco residencial Puukuokka – OOPEAA. Imagem © Fernanda Castro

2. A arquitetura tem um papel cultural tão importante na educação quanto as demais artes. É dada ênfase especial na arquitetura como parte fundamental da educação e cultura na Finlândia, fatos que se refletem na construção de uma série de novos edifícios de uso cultural. Bibliotecas de altíssimo nível, uma diversidade de museus que, além de exibir obras de arte, são capazes de transmitir emoções através de seus espaços, e escolas onde o projeto arquitetônico é fundamental para o bom desenvolvimento do sistema educacional e a maneira como as crianças se envolvem nas atividades culturais.

A arquitetura dos espaços públicos e educacionais de qualidade é fundamental para abordar e envolver o público com seu entorno construído, tornando-o cada vez mais consciente da qualidade do espaço que deve ser exigida.

Escola Saunalahti – Verstas Architects. Imagem © Fernanda Castro
Escola Saunalahti – Verstas Architects. Imagem © Fernanda Castro

3. A promoção da arquitetura em nível nacional através de organizações e instituições. Chamou-me a atenção a quantidade de organizações envolvidas com arquitetura, construção e urbanismo que lutam para tornar esses assuntos presentes na consciência da população. Essas organizações trabalham de maneira autônoma e também em conjunto, gerando atividades e oportunidades para conhecer a cultura e história dessas disciplinas. A viagem da qual participei foi promovida por um programa de difusão organizado por instituições como o Museu de Arquitetura da Finlândia, a Fundação Alvar Aalto, o Architecture Information Centre Finland e a SAFA (Associação Finlandesa de Arquitetos). Essas organizações também organizaram o prêmio nacional de arquitetura finlandesa, evento que tivemos a o prazer de prestigiar. 

O que mais me chamou a atenção foi o fato de que o projeto vencedor (Museu da História dos Judeus Poloneses) foi escolhido por Sixten Korkman - um economista e não um arquiteto - por seguir critérios que não têm a ver com a técnica ou o olhar do arquiteto, mas com o ponto de vista do usuário, alguém alheio à prática. Acredito que essa escolha foi acertada, a obra vencedora realmente reflete grandes qualidades em termos arquitetônicos, seja em questões formais, funcionais, relação com o espaço público ou experiência do usuário.

Incluir nessas decisões pessoas que se relacionam mais com o uso dos edifícios e não apenas com seus aspectos técnicos é, definitivamente, um aspecto que podemos importar no momento de avaliar obras de arquitetura em nosso continente.

Museu dos Judeus Poloneses – Lahdelma & Mahlamäki + Kuryłowicz & Associates. Imagem © Pawel Paniczko

Sem dúvida foi uma grande experiência poder ver essas referências de perto e, assim, tomar uma série de lições que devemos aprender. 

Tal como apontou Sixten Korkman, "os usuários aceitam e não exigem". Dificilmente nossos cidadãos poderão exigir melhorias na qualidade do espaço público e do ambiente construído se não existe a consciência de sua importância em nosso dia a dia. 

*Fernanda Castro é arquiteta pela Pontificia Universidad Católica de Chile. Atualmente é Editora de Projetos do ArchDaily e do Plataforma Arquitectura.

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Sobre este autor
Cita: Castro, Fernanda. "Três lições da arquitetura finlandesa" [Tres lecciones que nos deja la arquitectura Finlandesa ] 04 Jan 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/759664/tres-licoes-da-arquitetura-finlandesa> ISSN 0719-8906

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