Cinema e Arquitetura: "Eu, Robô"

O início de "I, Robot" nos transporta de maneira eloquente graças ao, sempre meticuloso, trabalho do diretor Alex Proyas, a uma cidade cheia de movimento e prosperidade, onde a robótica e a inteligência artificial substituíram o homem nas suas atividades mais básicas, aumentando consideravelmente a eficiência da sociedade. Os robôs são utilizados para trabalhos pesados e pouco valorizados pelo homem moderno, como limpeza pública, serviços de transporte e trabalhos domésticos, além disso, eles se tornaram fiéis ajudantes no dia-a-dia.

Dentro da Chicago do futuro encontramos uma cidade automática, refletida sobretudo nos meios de transporte urbanos. Gigantescas auto-estradas atravessam a cidade acima do nível do solo em segundos e terceiros níveis, misturando-se com linhas de trem bala que oferecem ao homem um método eficiente e rápido de transporte. Todas elas parecem limpas e seguras, e os problemas de engarrafamento são uma recordação de um século pré-histórico.

Sob estas linhas de transporte, ao redor dos enormes pilares que as sustentam, a vida dos pedestres lota as calçadas, como em um dia normal nas atuais ruas de Nova Iorque ou Tóquio. Nesse espaço a cidade torna-se plural, tanto através das numerosas atividades que realiza, quanto através dos seus atores sociais. Mas, diferentemente de filmes como Blade Runner, onde o ecletismo social se deve a uma mescla de culturas humanas, aqui o pluralismo social aparece entre os homens e os robôs em todas suas facetas. 

O robô tornou-se um elemento a mais na cidade e, aos olhos dos humanos, parece tão seguro e comum quanto um caixa eletrônico. Ninguém teme sua presença e quando um deles corre com uma bolsa na mão, ninguém vê como um ato criminal. Não somente a cidade física se automatizou graças a nova tecnologia, mas também a mente e o comportamento humano dentro desse novo panorama.

O protagonismo robótico dentro de todos os âmbitos é evidente e podemos observá-lo de forma mais destacada sobre o skyline da cidade. Centenas de belos e altos arranha-céus se lançam sobre o horizonte, mas nenhum deles é mais imponente do que a torre cristalina da US Robotics, que torna-se o principal elemento. 

Ela distingui-se do resto através do seu desenho ousado, que representa não somente o grande poder econômico da empresa, mas também a mudança de paradigma para a nova sociedade do século XXI. O próprio edifício resulta em um elemento vivo. No seu interior abriga o coração da inteligência artificial VIKI, a qual se expande por toda sua estrutura composta por cabos, câmeras de segurança e sensores de todo o tipo que controlam todas suas partes.

Um dos pontos mais significativos dentro do panorama urbano acontece até os minutos finais do filme. Terminada a revolução robótica, o homem vê questionada sua cega utilização dentro da vida diária e com medo que isso se repita, os isolam nos confins da cidade como produtos defeituosos em um lixão industrial. Aqui a grande mudança não vem da sociedade humana, que depois do incidente retoma sua paz na vida automatizada, mas sim por parte dos próprios robôs que em seu exílio, dão-se conta da própria existência. 

Que tipo de sociedade emergirá dessas entidades robóticas? Que modelo de cidade estarão a ponto de criar naquele território inóspito? Escravos toda sua existência, os robôs olham com atenção o horizonte, onde as antigas ruínas do homem aparecem e onde um novo líder os analisa, introspectivo e duvidoso. Estamos presenciando os primeiros momentos de uma sociedade superior a nossa? Ou este é o próximo passo da nossa evolução?

A Adaptação

"Eu, Robô" foi originalmente uma série de contos cuja publicação começou no ano 1941 e mais tarde foi publicado de maneira conjunta com uma breve história que tinha como protagonista a Dra. Susan Calvin, especialista em psicologia robótica e pilar fundamental para o desenvolvimento da inteligência artificial. Tais relatos, são os primeiros trabalhos de Asimov. Eles não são sua melhor literatura, sendo na sua grande maioria, caracterizações planas e situações previsíveis. 

O trabalho de adaptação de Alex Proyas, conhecido por obras como "Dark City" e "The Crow", resulta em uma adaptação mais convencional para o cinema, apresentando uma ficção científica clássica, que possui muitas diferenças quanto aos relatos originais. A adaptação não é literal, e sim livre e baseada no amplo universo imaginado por Asimov, nos seus relatos posteriores.

No filme, as máquinas se rebelam contra o homem, submetendo-o ao seu julgamento por considerá-lo perigoso para sua própria segurança. Entretanto, tal fato nunca acontece nos relatos de Asimov, os quais falam sobre a evolução da robótica e sua interação com o ser humano. No final do livro, os robôs começam a se perguntar se seus mestres são verdadeiramente capazes de se proteger ou se eles precisam ser substituídos por uma inteligência superior. 

CENAS CHAVE

1. Chicago do Século XXI

Largas rodovias passam por cima da cidade em três níveis de circulação, integrando-se com as vias de trens elétricos. Enormes telas dominam a vista da cidade.

2. O Centro da Cidade

Coberto de arranha-céus, o skyline transmite prosperidade, limpeza e ordem. A torrre US Robotics domina o horizonte a todo o momento.

3. A Imagem Degradada dos Subúrbios

Esse espaço, através do seu aspecto velho, sujo e superpopulado, transmite a sensação oposta ao centro da cidade A todo o momento a natureza parece ter sido erradicada da cidade.

4. Ecletismo de uma Cidade Pós-moderna

Na Chicago do futuro, misturam-se construções históricas e contemporâneas com as novas estruturas e tecnologias, o que aumenta a sensação de um futuro possível.

5. Automatização das Vias de Transporte

Ainda que o homem possua a capacidade de dirigir, prefere a comodidade da inteligência artificial que aumenta a eficiência e a segurança nos deslocamentos dentro da cidade. 

6. O Veículo do Futuro / Audi RSQ

A empresa Audi trabalhou diretamente com os desenhadores do filme, imaginando um veículo limpo, totalmente elétrico, automatizado e de pneus esféricos. 

7. Onipresença da Inteligência Artificial

Todos os aspectos da cidade encontram-se regulamentados por uma inteligência robótica, a qual melhorou a qualidade de vida dos humanos mas, ao mesmo tempo, abriu uma porta para sua dependência.  

8. Fantasmas na Estrutura

Sabendo que a grande mudança acontecerá, o Dr. Lanning sacrifica-se. Ele morre, mas uma porção da sua "alma" fica dentro de um holograma cuja mensagem é transmitida através de um críptico.

9. Produção em Grande Escala

A tecnologia aperfeiçoou a produção em massa. Em pouco tempo, milhões de Robôs são criados e distribuídos em cada lar para substituir o homem nas tarefas domésticas.

10. O Poder Econômico da US Robotics

Revolucionando o modelo de desenvolvimento, a USR é o centro do poder mundial. Seu edifício é majestoso e dentro dele existe uma gigantesca escultura que homenageia seu novo deus. 

11. Esquecimento e nostalgia de uma época mais simples

A casa do Dr. Lanning é um dos últimos vestígios do passado da humanidade. Mesmo sendo uma construção histórica, sua demolição esta prevista em uma sociedade que esquece do seu passado.

12. O Legado da Humanidade

Apesar de toda a nova tecnologia, a verdadeira mensagem da humanidade ainda se esconde dentro do seu conhecimento. O Dr. Lanning deixa pista como no antigo conto "Hanzel e Gretel".

13. Humanização da Artificialidade

O velhos robôs humanoides são substituídos por um modelo com rosto humano e corpo translúcido cuja a finalidade é transmitir uma maior segurança para adaptar-se a sociedade. 

14. Revolução no Modelo de Desenvolvimento

Com visões contrárias, os robôs iniciam uma revolução interna. Uns buscam a proteção do modelo atual, enquanto outros procuram submeter o homem dentro da sua lógica robótica. 

15. O Perigo de uma Era Digital

Sistemas eletrônicos sofisticados permitiram a humanidade grandes avanços, mas diante de uma falha elétrica a cidade fica paralisada e vulnerável a qualquer ameaça. 

16. Tecnofobia e Incompreensão Social

Depois do conflito, os robôs são retirados da vida diária, entretanto, o avanço da tecnologia não é o problema, mas sim, os limites da lógica humana. Somos nosso pior inimigo. 

17. Utopia Robótica

Isolados em velhos contêineres, os robôs são afastados da sociedade. Confundidos, olham o seu novo líder, que como um profeta sonhou com dia da sua liberação.

18. O Nascimento de uma Nova Era

Longe da cidade do homem, os robôs iniciam uma nova sociedade. Sujeitos às três leis da robótica... Que nova cidade irá emergir de suas mentes?

FICHA TÉCNICA

Data de Estreia: 16 de Julho 2004
Duração: 115 min.
Gênero: Ação / Ficção Científica
Diretor: Alex Proyas
Roteiro: Akiva Goldsman / Jeff Vintar
Fotografia: Simon Duggar
Adaptação: I, Robot / Isaac Asimov

SINOPSE

Dentro da cidade de Chicago, no ano de 2035, a sociedade vive em harmonia com a presença dos robôs, os quais estão integrados na vida cotidiana. A humanidade confia cegamente neles, graças as Três Leis da Robótica, as quais os dotam de completa obediência e nos protegem de qualquer perigo. 

Mas, quando o brilhante científico Alfred Lanning aparece morto em estranhas circunstâncias, o detetive Spooner é chamado para investigar o caso, que com um profundo rancor dos robôs, pensa que de fato, se trata de um assassinato. 

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Sobre este autor
Cita: Hernández, Rafael. "Cinema e Arquitetura: "Eu, Robô"" [Cine y Arquitectura: "Yo, Robot"] 07 Nov 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Camilla Sbeghen) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/756507/cinema-e-arquitetura-eu-robo> ISSN 0719-8906

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