Museu da Memória / Estudio America

© Cristobal Palma

MUSEU DA MEMÓRIA + CENTRO MATUCANA 

CONCEITO

As memórias são figuras que vivem em um mundo inconcluso. São fragmentos de fatos que não se repetem que não poderão suceder duas vezes. Não entendemos a memória como um desejo juvenil de voltar atrás, de substituir o insubstituível, para nós a memória não é um arrependimento. É mirar o futuro, sabendo o passado.

Um museu da Memória deveria ser pensado a partir do caráter não linear do tempo e de suas imagens. E também sobre como podemos armazenar e transmitir este conhecimento de maneira ampla e imparcial.

Um país singular, entre a cordilheira e o mar. Um museu que deseja ocupar esta franja, reverenciando através de uma mirada simbólica estes dois elementos determinantes da geografia chilena, marcados na alma do seu povo.

A memória evidenciada, emergente, que flutua, suavemente elevada. Uma arca, onde se pode depositar todas as reminiscências da história chilena.

© Cristobal Palma

Projetada para criar lugares e marcos físicos ou mentais, onde se possa oferecer condições [entornos operativos] para que o conhecimento germine do interior de cada indivíduo. Somente aquilo que uma pessoa descobre por ela mesma pode acumular-se como memória ativa. Um espaço dedicado à memória pode não só transmitir informações, mas também provocar a reflexão sobre as recordações e os desejos.

A ordem territorial do centro de Santiago, intimamente vinculado à cidade histórica, entende o espaço público como o não construído, configurado pela ocupação perimentral da manzana. Entendemos esta história e sua tradição, mas consideramos a possibilidade de avançar na construção de um novo território que tenha um claro comprometimento com a diversidade cidadã e os espaços democráticos.

O Centro Matucana será uma manzana aberta. Entende e se harmoniza com a cidade herdada, a incorpora e a transforma. O Museu da Memória não será um monumento isolado, solto e sem responsabilidade urbana [e humana]. Ao contrário, se constituirá em um elemento comprometido diretamente com a delimitação e caracterização deste novo espaço público da cidade de Santiago.

© Cristobal Palma

Propõe-se um espaço generoso, amplo de possibilidades e percursos. Permite a transposição natural e cotidiana da quadra. Os elementos urbanos que compõem o Centro Matucana têm caráter cívico. A grande rampa do Museu, a Praça da Memória, o pátio jardim, constituem uma seqüência espacial que oferece uma hierarquia urbana necessária para um complexo metropolitano.

Os escritórios públicos e privados se organizam ao redor de um jardim, o “Pátio dos Desejos”. A massa construída recompõe a configuração urbana tradicional, mas permite, através de um térreo elevado, uma permeabilidade necessária e desejada. O ajuste dos gabaritos proposto na borda norte do projeto oferece, mais que uma transição entre os edifícios históricos e o Centro Matucana, a possibilidade de uma extensão aérea do pátio, através dos terraços-jardím.

© Cristobal Palma

A TÉCNICA

A estrutura da barra é integra, una, e sem concessões evidencia a elevação da memória. Teremos uma materialidade etérea, qual pedra de Magritte. Assim, uma composição de treliças metálicas, um túnel, vence o todo o vão, com a carga descarregando em quatro apoios nos limites. Nelas vinculadas, as caixas de exposição, translúcidas, que protegidas pelo afastamento das extremidades, garantem a controlada iluminação do Museu.

A materialidade também é conseguida com as lembranças da expressão matérica dos territórios que compõem o Chile. O piso da Barra é um mosaico das terras chilenas, coberto com vidro, memória dos lugares, nuances multicoloridas. Limalhas de cobre e ferro, sob ele, por efeitos magnéticos, marcam o percurso dos visitantes, guardando uma efêmera memória das vontades, do ir e vir, nas direções dos olhares. No revestimento externo, o cobre e o carvão marcam toda a história dos mineradores chilenos como uma das memórias da economia, do fazer e do viver. O Museu, essa pedra de cristal tem no carvão o carbono essencial no ser humano e na constituição da natureza. Simbolicamente, o carvão, é o registro daquilo que já foi. É a memória do que poderia ter sido.

© Cristobal Palma

A preocupação persiste com o nosso futuro, com a preservação e o ambiente. A energia do sol é captada na cobertura, por placas fotovoltaicas. A luz natural ilumina por várias situações e modos o interior do espaço, desenhando e vivendo novos lugares num trajeto de efeitos sempre tão inesperado. Os rasgos na cobertura da Barra a ilumina. O desenho do piso da praça leva-a ao interior da Base.

Os elementos da natureza num caleidoscópio de efeitos sobre o homem somam-se à sua memória qual manifestação da construção humana, delineiam o chão e memória da terra como manifestações da cultura e da apropriação do espaço que é a vida, absolutamente, incluída neste projeto.

O PROGRAMA

Um volume absorve os usos comerciais e de serviços; organizam-se em torno de um jardim franqueado à praça, que contém o comércio, bares e restaurantes, delícias da natureza humana à espera dos encontros, do acaso e dos sorrisos.

Corte BB

O Museu se organiza em dois momentos conceituais: a Barra e a Base. Na primeira, elevada, a história, as exposições, as informações, o viver da memória aberta nas duas extremidades como quem deixa a vida passar. Na outra, a base, primeiro a mais profunda, mineira, a produção, os estudos, a invenção, os seminários, os conhecimentos da terra e do território e em outro momento o necessário apoio dos setores administrativos. A Barra como espaço museológico específico e os eventos na Base, área que complementa o programa usual de um Museu no subsolo que poderá funcionar com cinemas de arte e espaços para cursos sobre direitos humanos e a memória, sobre a cultura e o território chileno.

Corridas, nas duas laterais da barra, a circulação, sanitários, apoios, iluminados desde o céu. A luz desce zenitalmente, e penetra em toda a barra através dos vidros laterais que divisam a circulação e a fazem, também, luz.

A manifestação, o florescimento deste conhecimento é objetivo contemporâneo de um museu. Ele surge através de raízes profundas e bem plantadas, em um subsolo [A base], onde o potencial, energético, produtivo, mineral, a solidez têm a oportunidade de se manifestar.

Em seu interior, as caixas de vidro, a transparência necessária, a vivacidade; a memória que vivida em fragmentos, mas que formam, em conjunto, o repertório da idiossincrasia de uma nação. A massa é o cristal.

Plantas Barra

“Não podemos mudar nosso passado, somente nos resta aprender do vivenciado. É o primeiro que penso ao percorrer este Museu. O edifício é esplendido, vocês o podem apreciar e estou segura de que todos que participamos desta inauguração, estamos comovidos com as suas linhas, pela sua beleza, pela sua extraordinária integração com o espaço urbano no qual foi construído.

Por isso quero fazer um reconhecimento a cada um daqueles que tornaram realidade o Museu da Memória e dos Direitos Humanos com esforço e dedicação, o que aprecio e admiro por tudo o que isso vale.

“Nossa gratidão para como aqueles que levantaram sua arquitetura material e aqueles que desenharam a sua arquitetura conceitual, assim como aqueles que têm dado vida as coleções, arquivos e obras de arte que este magnífico edifício contém.” - Trecho do discurso da Presidente Michelle Bachelet na inauguração do Museu da Memória e dos Direitos Humanos. [Santiago, 11 de Janeiro de 2010.]

Ficha técnica:

  • Arquitetos:Estudio America
  • Ano: 2009
  • Área construída: 10900 m²
  • Endereço: Avenida Matucana, Quinta Normal Santiago Chile
  • Tipo de projeto: Cultural
  • Status:Construído
  • Materialidade: Pedra
  • Estrutura: Metal
  • Localização: Avenida Matucana, Quinta Normal, Santiago, Chile

Equipe:

  1. Autores: Carlos Dias, Lucas Fehr y Mario Figueroa [Brasil] + Roberto Ibieta [responsable técnico y arquitecto asociado en Chile]
  2. Colaboradores concurso: Amanda Renz, Carlos Eduardo Garcia, Flávia Tenan, Juliana Baldocchi, Juliana Klein, Marcus Vinícius Damon y Marina Canhadas + Ing. Ricardo Dias [estructura] y Josei Nagayassu [video]
  3. Colaboradores Executivos: Brasil - Amanda Renz, Carlos Eduardo Garcia, Juliana Klein, Marcus Vinícius Damon y Marina Canhadas + Luiz Del Guerra y Gustavo Capecchi. Chile -Werner Renck [arquiteto coordenador], Luis Madrid [arquiteto], Ignacio Cárdenas [arquiteto], Felipe Gonzalez [arquiteto], Cristián Pérez [engenheiro], Álvaro Díaz [projetista]

Informação Complementar:

  1. Assesores técnicos: Eng. Osvaldo Peñaloza [estruturas], Termosistemas [climatização], Sipar [sanitários], Pimesa [eletricidade], Eng. Jaime Hurtado [luminotécnica], Const. Civil Sergio Dalmazzo [segurança], Piscinería [hidráulica], SolArchi [coordenação geral].
  2. Contratante: MOP - Dirección de Arquitectura Comisión Presidencial de los Derechos Humanos
  3. Unidade operativa : MOP - Dirección Regional de Arquitectura R.M.
  4. Construtora: COMSA de CHILE BASCO
  5. Estrutura metálica: Maestranza JOMA

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Cita: Gica Fernandes. "Museu da Memória / Estudio America" 02 Nov 2011. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-715/museu-da-memoria-estudio-america> ISSN 0719-8906

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