Parasita ou Salvador? A nova torre de Ibelings van Tilburg

Este artigo foi publicado originalmente na uncube magazine como "Saviour or Parasite?"

O centro da cidade de Rotterdam é dominado pelo comércio. Apenas 5% dos habitantes da cidade vivem no centro ocupado por grandes lojas, restaurantes fast food e escritórios. Após o horário comercial, as ruas ficam desertas. O município gostaria de atrair mais moradores para o centro - mas o espaço para novos edifícios de habitação é escasso. Assim, nos últimos anos, um cinema dos anos 1960 e uma igreja tiveram que abrir caminho para um novo complexo habitacional projetado por Alsop Architects e uma torre residencial de Wiel Arets foi rapidamente ligada à loja de departamento projetada por Marcel Breuer, De Bijenkorf. Não era assim até que o município forçasse a construção de novos arranha-céus residenciais nas áreas verdes do complexo residencial Lijnbaanhoven, projetado em 1954 por Hugh Maaskant, quando houveram protestos e o projeto teve que ser cancelado.

Um projeto de densificação, no entanto, tentou não destruir ou degradar o edifício do pós-guerra que originalmente ocupa o terreno. Em muitos aspectos, o arranha-céu residencial Karel Doorman pode ser chamado de salvador da antiga loja de departamentos Ter Meulen. Pode ser um pouco incomum para um valente herói se agachar sobre os ombros de uma velhinha que se pretende resgatar - mas é isso mais ou menos o que acontece aqui.

Ter Meulen de Van den Broek en Bakema c. 1950. Cortesia de Ibelings van Tilburg Architecten

Em 2001, os arquitetos Ibelings van Tilburg foram procurados pelo proprietário com a questão sobre o que fazer com o antigo edifício Ter Meulen. Construído entre 1948 e 1951 pelos legendários arquitetos de Rotterdam Van den Broek en Bakema, o centro comercial estava em um estado lastimável. Originalmente ocupada por três lojas de departamento, o edifício de 100 metros de comprimento tornou-se o lar de uma série de lojas desvalorizadas. Já havia sofrido diversas transformações, incluindo um acréscimo de dois pavimentos em 1977 e a remoção de um distinto terraço café que avançava sobre a esquina. Somente especialistas podem ainda detectar seus méritos arquitetônicos. As coisas não pareciam boas. Surpreendentemente, porém, os arquitetos vieram com a sugestão de restaurar o centro comercial ao seu estado original - e colocar um edifício residencial em cima dele para torná-lo economicamente viável.

Ter Meulen de Van den Broek en Bakema c. 1950. Cortesia de Ibelings van Tilburg Architecten

O novo edifício abriga 114 apartamentos em 16 pavimentos, apoiados na estrutura existente. Como se vê, a estrutura do centro comercial do pós-guerra foi superdimensionada e pôde suportar muito mais peso do que apenas os próprios três andares. No desenho original, a estabilidade foi alcançada através de um sistema de pórticos. Para a ampliação foram adicionados dois novos núcleos de concreto - perfurando o antigo edifício - que contam com escadas e elevadores. No entanto, sua altura de 16 pavimentos foi bastante ambiciosa e significou o aumento de 250 kg/m². Isto guiou o sistema de padrão construtivo holandês com pisos e paredes concreto que chegam a pesar até 1.200 kg/m². Ao invés disso, a estrutura principal foi feita de aço com piso de madeira. A fim de evitar problemas acústicos, os apartamentos foram construídos como se fossem caixas dentro de uma caixa maior.

© Ossip van Duivenbode for Ibelings van Tilburg architecten

Nos últimos andares do edifício estão dois pavimentos de estacionamento, acessíveis com a ajuda de três elevadores de veículos. O novo edifício fica sobre pilotis e parece pairar vários metros acima do centro de compras - o que não só resulta em uma separação visual entre o antigo e o novo, mas também reduz a força do vento no térreo. Entre as duas torres (uma com 13 pavimentos e a outra com 16) encontra-se um jardim comum no sétimo pavimento. Este é coberto por uma "capa" de vidro e as fachadas, que estão atrás desta capa, são revestidas com madeira de pinho.

© Ossip van Duivenbode for Ibelings van Tilburg architecten

O exterior do centro comercial foi cuidadosamente restaurado. No entanto, o terraço do café não voltou, e o que é pior, as lojas estão fechando as grandes vidraças com propagandas e logotipos, arruinando a estética desejada. Enquanto em fotos antigas o edifício parece uma elegante composição, solto em cubos separados, empilhados e unidos, tornou-se agora um bloco sólido. Isso é infinitamente melhor do que o que parecia há quinze anos atrás, mas é apenas o meio do caminho de volta à sua antiga glória. Claro que a questão também é saber se o enorme e novo arranha-céu, com sua alta tecnologia e fachadas de vidro em estilo corporativo é realmente um nobre salvador. Talvez seja apenas um parasita gigante, que cresceu alimentando-se de seu hospedeiro? De qualquer forma, ele tem impedido que o Ter Meulen siga o caminho de muitos dos outros edifícios comerciais fora de moda e malquistos da época do pós guerra do centro de Rotterdam.

© Ossip van Duivenbode for Ibelings van Tilburg architecten

Anneke Bokern é escritora freelancer que aborda arquitetura, design e arte - muitas vezes, mas nem sempre, da Holanda, onde vive desde 2000. Ela tem contribuído com muitas publicações internacionais como, Mark Magazine, DAMn° Magazine, e Azure.

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Sobre este autor
Cita: Bokern, Anneke. "Parasita ou Salvador? A nova torre de Ibelings van Tilburg" [Parasite or Savior? Ibelings van Tilburg's Hovering New High-Rise] 20 Out 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Vada, Pedro) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-147224/parasita-ou-salvador-a-nova-torre-de-ibelings-van-tilburg> ISSN 0719-8906

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